Vamos

Nepaleses, etnográficos e rock no Inatel. Coimbra estreia “Rumor”

Notícias de Coimbra | 15 minutos atrás em 28-11-2025

Imagem: Ilustrativa

Coimbra acolhe este fim de semana um espetáculo que junta o Grupo Etnográfico da Região, o coro BaixaVoz e a comunidade nepalesa para, a partir de dança e música, falar do turismo como um rumor que muda a cidade.

Num dos ensaios para o espetáculo “Rumor”, dirigido por Madalena Victorino, ao se subirem as escadas do antigo Inatel, situado junto à já desativada Estação Nova, na Baixa da cidade, começa-se a ouvir uma música nepalesa.

PUBLICIDADE

publicidade

Mulheres com lenços nas mãos ensaiam uma dança, no último piso do edifício fechado há vários anos, numa divisão que antecede a entrada para o palco do antigo Inatel.

PUBLICIDADE

Do outro lado da porta, já junto ao palco, ouve-se música tradicional portuguesa, afinam-se outras danças, posições e momentos, com algum caos aparente à mistura, resultado de um espetáculo que junta cerca de 80 pessoas, entre as quais alguns bailarinos profissionais.

Neste espetáculo, que é apresentado no sábado e domingo, todos se juntam para falar do turismo como um rumor, uma presença quase fantasmagórica que vai afetando a cidade, que cria caricaturas, que transforma a identidade de Coimbra e que traz também consigo outros habitantes.

A proposta começou por ser um desafio lançado por Catarina Pires, da Associação Há Baixa, à coreógrafa Madalena Victorino, para adaptar para Coimbra “Rumor”, espetáculo inicialmente criado no Algarve, sobre a transformação daquela região por via do turismo.

O trabalho conta com uma investigação por parte do antropólogo Pedro Prista, que, na sua carreira, se debruçou sobre o turismo, desenvolvendo o conceito a que chama “a coisa T”, em que o fenómeno de transformação das cidades e locais acontece de forma “quase invisível”, diz à agência Lusa Madalena Victorino.

“No fundo, o turismo é um rumor, que está em toda a parte, está nas nossas vidas, sempre atrás de nós”, acrescenta.

Em Coimbra, aborda-se a transformação e destruição da Alta universitária nos anos 1960, a viragem da cidade para o turismo, com a própria universidade “muito focada nas movimentações dos turistas”, diz a coreógrafa.

“Andamos pelos corredores da universidade e encontramos turistas. Na rua, os estudantes põem as capas nos turistas para a fotografia e fazem as suas danças acrobáticas talvez para ganhar algum dinheiro. A universidade, como lugar de conhecimento e de descoberta, parece estar diluída ou adoentada”, nota.

No espetáculo, haverá comida – portuguesa e nepalesa – e ‘minis’, num piscar de olho ao espírito boémio e festivo da cidade dos estudantes.

Também na música, tanto se irão ouvir canções nepalesas e rock nepalês como modas tradicionais da região Centro pelo Grupo Etnográfico da Região de Coimbra, com sede na Baixa.

A comunidade nepalesa, que está “muito escondida” na cidade, torna-se visível em “Rumor”, fundindo-se e entrando no tecido do espetáculo, para mostrar que é possível “viver experiências de cruzamento e mistura de culturas”, salienta Madalena Victorino.

“O espetáculo vai ao encontro daquilo que têm sido as inquietações do Há Baixa, nomeadamente esta reflexão sobre a transformação das cidades e a possibilidade de criar encontros entre comunidades diferentes”, além de reativar “um espaço adormecido” da Baixa, disse à agência Lusa a presidente da Há Baixa, Catarina Pires.

Segundo a responsável, a comunidade nepalesa tem vindo a instalar-se nos últimos anos em Coimbra, com especial incidência na Baixa, com uma parte dela a trabalhar na hotelaria e restauração.

“Tem sido uma colaboração muito frutuosa e interessante”, notou Catarina Pires.

Para a responsável, esta é uma oportunidade para haver uma aproximação a uma comunidade “que vive e encorpa a Baixa”, esperando que o espetáculo e o seu processo sejam também um momento de encontro: “Só olhos nos olhos e mão na mão é que conseguimos conviver harmoniosamente”.

O espetáculo é organizado pelo Há Baixa e Cooperativa Lavrar o Mar numa parceria com o Inatel, tendo apoio da Direção-Geral das Artes e Câmara de Coimbra, entre outros parceiros.

PUBLICIDADE

publicidade

PUBLICIDADE