Já imaginaram o rei D. José e o Marquês de Pombal há 265 anos, nos jardins do Alto da Ajuda, em Lisboa, a saborearem em pleno julho sorvetes com neve da Serra da Lousã? O Encontro dos Povos nasceu em 1997, no Santo António da Neve. Foi aqui, precisamente aqui!
Sendo verdade que “trigueira é a pimenta e vai à mesa do rei”, segundo o cancioneiro popular, na Lisboa do século XVIII, no pino do verão, qual seria a delícia refrescante preferida na corte de D. José I?
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Em pleno iluminismo, após o terramoto de 1755, que arrasou a capital do reino de Portugal e Algarves, o que diria o Marquês de Pombal das neves da Serra da Lousã?
Já imaginaram o rei e o seu braço direito, Sebastião José de Carvalho e Melo, em julho, a passearem nos jardins do Alto da Ajuda e a saborearem sorvetes, discutindo detalhes da reconstrução de Lisboa?
Esse gelo era realmente recolhido no Cabeço do Pereiro, hoje Santo António da Neve, no atual concelho de Castanheira de Pera.
Dentro dos Poços da Neve, era calcado com maços e armazenado durante meses.
Ao longo de mais de 200 quilómetros, a neve era transportada em carros de bois e depois de barco, no rio Tejo, para as despensas de Sua Majestade.
Com os Jesuítas expulsos do país, os Távoras executados e perseguidos, os neveiros do Coentral, na Serra da Lousã, continuaram a produzir, até ao dealbar do século XX, o gelo depois transformado e levado à mesa do rei.
O conjunto arquitetónico da capela de Santo António da Neve e dos Poços da Neve tem mais de 250 anos e está classificado como imóvel de interesse público.
Aqui – precisamente aqui! – vai decorrer neste sábado, 10 de julho, a partir das 10:00, o 25º Encontro dos Povos da Serra da Lousã.
Uma dupla homenagem ao lousanense João Poiares da Silva, que faleceu em junho, e ao castanheirense Ernesto Ladeira é um dos momentos altos de mais um Encontro dos Povos serranos.
O tributo póstumo ao professor universitário João Silva, que foi diretor e um dos criadores do jornal Trevim, em 1967, e ao poeta e antigo funcionário da TAP Ernesto Ladeira realiza-se às 14:15, ao ar livre, no recinto do Santo António da Neve.
A organização do Encontro convida os amigos da Serra da Lousã a participarem nesta e noutras iniciativas do dia.
Às 10:30, no mesmo local, decorre a apresentação da última edição da revista “Anais Leirienses”, que integra um capítulo, da autoria do jornalista Casimiro Simões, dedicado a Kalidás Barreto, da Castanheira de Pera, que há 24 anos esteve na fundação do Encontro.
A sessão conta com a presença de Carlos Fernandes, da editora Hora de Ler, de Leiria, e de familiares de Kalidás Barreto, antigo colaborador do Trevim falecido no ano passado.
Às 11:00, é lançada a obra “Os ratinhos: o povo serrano por terras do Alentejo e Borda d’Água”, uma antologia de textos de diversos autores, organizada por Aires Henriques, investigador oriundo de Pedrógão Grande que, junto à sua coleção particular de “pratos ratinho”, disserta sobre as migrações internas dos montanheses da região, nos séculos XIX e XX,
Além do ansiado reencontro, mais que provável, entre serranos das muitas diásporas da Serra da Lousã e arredores, esta edição do Encontro dos Povos, do nascer ao pôr-do-sol, inclui a habitual confraternização com partilha dos farnéis, jogos tradicionais, poesia, cantares ao desafio e baile à moda antiga ao som de concertinas.
A organização cabe às seguintes entidades: jornal e Cooperativa Trevim, associação Caperarte, Lousitânea – Liga de Amigos da Serra da Lousã, Associação São Lourenço, Cooperativa Arte-Via e Liga de Amigos do Museu Louzã Henriques.
Colaboram moradores do Coentral, o jornal Mirante, o Grupo de Concertinistas da Lousã, a Villa Isaura Turismo Rural, o investigador Mário Maia, a Câmara da Lousã, a GNR, os Bombeiros Voluntários e a Câmara da Castanheira de Pera.
É obrigatório o uso de máscara e o cumprimento das restantes regras sanitárias em vigor face à pandemia.
A organização recomenda que cada participante, além do farnel, leve calçado adequado ao meio, um chapéu, um agasalho e ainda, se possível, um pequeno banco ou cadeira.
A Lousitânea prevê confecionar no local sopa serrana com carne, pataniscas de bacalhau, filhoses e café.
A Câmara da Lousã disponibiliza transporte para uma viagem de ida e volta entre esta vila e o Santo António da Neve, devendo os interessados inscrever-se na receção da autarquia até à véspera, às 15:00.
O número de lugares é limitado e a partida do autocarro está prevista para as 08:30, junto ao Pelourinho.
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