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Narrativa histórica adquiriu renovada importância para a China perante disputas territoriais

Notícias de Coimbra | 9 meses atrás em 13-08-2023

A narrativa histórica adquiriu renovada importância para a China perante disputas territoriais regionais – sobretudo em Taiwan e no Mar do Sul da China – mas também na imposição da cultura da etnia Han dominante às minorias Uigur ou Mongol.

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Xing Guangcheng, Diretor do Centro de Geografia e História dos Territórios Fronteiriços da China, da Academia de Ciências Públicas, comparou, em entrevista à Lusa, a relação entre os Han e as minorias étnicas à constituição de uma árvore: “Os Han são o tronco, enquanto as minorias étnicas são os belos galhos que dele brotam”.

No extremo oeste do país, em Xinjiang e no Tibete, as duas regiões chinesas mais vulneráveis ao separatismo, Pequim intensificou uma campanha repressiva, que, no caso de Xinjiang, incluiu a detenção de mais de um milhão de membros da minoria étnica de origem muçulmana uigur em campos de reeducação e a imposição de “trabalho forçado” e “esterilizações forçadas”, segundo organizações de defesa dos Direitos Humanos.

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Isto aconteceu após a região ter sido, em 2009, palco dos mais violentos conflitos étnicos registados nas últimas décadas na China entre os Uigures e os Han, a etnia dominante na China. Um ano antes, revoltas contra a presença chinesa no Tibete causaram 18 mortos e centenas de feridos em Lhasa e outras áreas da região.

Em 2020, milhares de estudantes e pais chineses de etnia Mongol, na região autónoma da Mongólia Interior, participaram em raras manifestações contra a nova política de educação bilingue de Pequim que dizem ameaçar a língua mongol na região.

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A política, adotada antes do início do novo ano letivo, exigia que as escolas usassem novos livros didáticos em chinês, substituindo os livros em língua mongol, até então a principal língua de ensino da região.

Mudanças semelhantes ocorreram no Tibete e em Xinjiang, onde o idioma principal de instrução nas escolas tornou-se também o chinês mandarim. As alterações são recentes, já que a China adoptava, até há poucos anos, políticas de inspiração soviética de promoção de línguas de grupos minoritários.

“Todas as famílias têm discussões”, reconheceu Xing Guangcheng. “Mas isso raramente resulta em violência ou divórcios”, ressalvou o historiador do organismo sob tutela do Governo chinês.

“A harmonia e a unidade são sempre as tendências dominantes na História da civilização chinesa”, defende.

No Mar do Sul da China, onde o país asiático militarizou ilhas disputadas, apesar dos protestos dos países vizinhos, descobertas arqueológicas estão a ser usadas para legitimar reivindicações territoriais do regime.

Quando, no início do ano, a China anunciou a descoberta de dois navios da Dinastia Ming, naufragados há cinco séculos e abastecidos com peças de porcelana e madeira preciosa, funcionários chineses citados pela imprensa estatal apressaram-se a apontar que a descoberta “confirma factos históricos” de que “ancestrais chineses desenvolveram, usaram e viajaram de e para o Mar do Sul da China”, uma das rotas comerciais mais movimentadas do mundo.

“Nós somos diferentes da civilização Ocidental: o Império Romano foi construído com base na noção de cidade-Estado, mas a China enfatizou sempre a importância da unidade”, apontou Xing Guangcheng.

China e Taiwan vivem como dois territórios autónomos desde 1949, altura em que o antigo governo nacionalista chinês se refugiou na ilha, após a derrota na guerra civil frente aos comunistas. A ilha mantém, até hoje, o nome oficial de República da China, em contraposição com a República Popular da China, no continente chinês.

Mas, Pequim considera Taiwan parte do seu território e ameaça a reunificação através da força, caso a ilha declare formalmente a independência. A reunificação do território tornou-se mesmo um objetivo primordial no projeto de “rejuvenescimento da grande nação chinesa” do líder chinês, Xi Jinping. Nos últimos anos, a China passou a enviar, com frequência quase diária, aviões e navios de guerra para as proximidades da ilha.

“A unidade territorial está profundamente enraizada no coração do povo chinês”, acrescentou Xing Guangcheng. “Isto, claro, aplica-se também à questão de Taiwan”.

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