Uma mulher em Londres foi recentemente multada por ter despejado café no ralo antes de entrar num autocarro. A multa foi entretanto revogada pelo Conselho de Richmond, mas o incidente desencadeou um debate sobre os possíveis impactos ambientais do descarte de café.
No Reino Unido, são consumidas diariamente cerca de 98 milhões de chávenas de café, número que sobe para dois mil milhões em todo o mundo. Todo esse líquido precisa de um destino, seja em casa, no trabalho ou a caminho do transporte público. Embora a cafeína seja um ritual diário para muitos, o seu desperdício pode ter consequências ambientais significativas.
Apesar de uma única chávena parecer insignificante, o despejo diário de milhões de resíduos pode aumentar os níveis de cafeína nos sistemas de esgoto, afetando rios e cursos de água. No Reino Unido, grande parte do sistema de esgotos é combinado, transportando água da chuva e esgoto doméstico para estações de tratamento. Quanto mais cafeína é despejada, maior o risco de que parte dela escape ao tratamento e chegue aos rios.
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O café contém centenas de compostos químicos, incluindo cafeína, leite, açúcar, cacau e especiarias. Entre estes, a cafeína é a que apresenta maior impacto ambiental, pois não se decompõe facilmente e é considerada um contaminante emergente. Estudos já identificaram a presença de cafeína em lagos e rios, sendo que o excesso pode prejudicar o oxigénio da água, estimular o crescimento de algas e afetar a flora e fauna aquática.
As estações de tratamento variam na capacidade de remoção da cafeína – de 60% a 100% –, o que significa que até água tratada pode conter resíduos desta substância. Chuvas fortes podem agravar o problema, levando à descarga direta de águas residuais nos rios. A cafeína já foi encontrada em mais de 50% dos rios amostrados em 104 países, incluindo a Antártida. Estudos mostram que mesmo pequenas quantidades podem afetar o metabolismo e a sobrevivência de algas, plantas e pequenos animais aquáticos.
Especialistas alertam que bueiros e pias fazem parte do sistema de abastecimento de água, e não devem receber café, borra de café, óleos, tintas, detergentes ou outros líquidos que possam poluir rios e mares. Para o café residual, o ideal é recorrer a compostagem, depósitos de resíduos alimentares ou, em último caso, à lixeira doméstica. Em casa, o café pode ser diluído para uso em plantas ou em pequenas quantidades no jardim, evitando acumulação de cafeína e resíduos sólidos, pode ler-se no Science Alert.
Kevin Collins, Professor Sénior em Meio Ambiente e Sistemas na Open University, sublinha que melhorar a qualidade dos rios e costas exige reformas políticas e investimentos, mas que os cidadãos também podem contribuir, evitando que o café e outros resíduos cheguem aos ralos e aos ecossistemas aquáticos.
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