Movimento de cidadãos apela a um regresso da floresta autóctone

Notícias de Coimbra | 6 anos atrás em 29-03-2018

Um movimento de cidadãos, intitulado “Aliança pela Floresta Autóctone”, que nasceu após os grandes incêndios de 2017, promete lutar pelo regresso da floresta natural do território português, ao mesmo tempo que advoga o fim das monoculturas.

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O apelo lançado pela “Aliança pela Floresta Autóctone” (publicado em florestautoctone.webnode.pt) já tem mais de mil subscritores, entre cidadãos e associações de todo o país, tendo começado a ser desenhado ainda antes dos grandes incêndios de 2017, mas ganhou forma depois dos fogos que assolaram o país, disse à agência Lusa um dos coordenadores do movimento, Miguel Dantas da Gama, membro da direção do Fundo para a Protecção dos Animais Selvagens (FAPAS).

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“A ideia do apelo foi motivar os cidadãos para uma causa comum. Queremos tomar o pulso, porque há uma certa maioria silenciosa que não se manifesta, mas que ao ler o apelo confirma estar preocupada e comungar de uma visão próxima da nossa sobre o diagnóstico e as causas”, explanou.

Para além de Miguel Dantas da Gama, o movimento é coordenado por Jorge Moreira, da associação Alvorecer Florestal, e pelo presidente da Campo Aberto, José Costa Marques.

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No documento partilhado no seu ‘site’, o movimento defende um incentivo e promoção de “uma verdadeira reflorestação do país assente no primado das espécies autóctones, com base numa estratégia de longo prazo e de âmbito nacional”.

Para a aliança, há que reabilitar estruturas humanas e materiais “com provas dadas”, como os guardas florestais a tempo inteiro e viveiros, “imprimindo uma mudança do atual paradigma florestal assente em extensas monoculturas, nomeadamente de eucalipto e pinheiro-bravo”.

O apelo encoraja a um aumento das espécies autóctones, que poderão garantir “maior resiliência perante o fogo”, mas também potenciar “a biodiversidade, o equilíbrio ecológico e paisagístico”, contribuir para “minorar a problemática das alterações climáticas” e melhorar “os solos e o ciclo hidrológico”.

Segundo o movimento, deverá ser suscitado também “um novo interesse pela revitalização da agricultura assente em princípios ecológicos e de qualidade, promovendo a regeneração dessas regiões numa perspetiva de sustentabilidade, diversidade e perenidade”.

Para Miguel Dantas da Gama, “tem de haver uma verdadeira revolução”, face à complexidade e gravidade do problema.

“Estamos a gerir um problema grave com medidas e propostas no curto prazo. A verdadeira questão só se resolve com tempo e mexendo em questões de fundo, que têm a ver com o que fizemos ao longo de décadas e séculos. Neste momento, temos arborizações e muito lixo verde, mas floresta não temos”, notou.

O ser humano “foi devastando a floresta, mas a destruição estava controlada, porque o Homem vivia no interior, geria os matos porque precisava deles. Depois disso, abandonou o território e deixou a natureza muito alterada. Não satisfeito, ainda alterou o coberto vegetal, com grandes monoculturas que não podem ser geridas sem gente”.

Sobre a reforma da floresta promovida pelo Governo, Miguel Dantas da Gama realça que foram criadas “ferramentas interessantes e indispensáveis”, mas se forem “mal utilizadas não servem para nada”.

“Não há na reforma grandes incentivos para discriminar positivamente quem quer apostar nas espécies autóctones”, referiu.

No dia 17, a “Aliança pela Floresta Autóctone” realizou o seu primeiro debate, no Porto, com o biólogo de Coimbra Jorge Paiva, tendo a perspetiva de lançar um ciclo de debates nas regiões mais afetadas pelos incêndios em 2017.

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