José “Pepe” Mujica, antigo presidente do Uruguai e uma das figuras mais marcantes da política sul-americana, morreu esta quarta-feira, 14 de maio, aos 89 anos.
A notícia foi confirmada pelo atual chefe de Estado, Yamandú Orsi, que lhe prestou homenagem nas redes sociais, lembrando-o como “presidente, ativista, guia e líder”.
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Era considerado o presidente “mais pobre do mundo”.
Mujica enfrentava um cancro no esófago, diagnosticado na primavera de 2024. Apesar dos tratamentos iniciais terem tido algum sucesso, a doença regressou com maior agressividade no início de 2025, atingindo também o fígado. Devido ao seu estado de saúde frágil e a uma doença autoimune, optou por não continuar os tratamentos. Na sua última entrevista, disse com serenidade: “O meu ciclo terminou. Um guerreiro tem o direito de descansar.”
A vida de Mujica foi marcada por constantes reviravoltas. Militante marxista nos anos 60, participou na fundação dos Tupamaros, um movimento guerrilheiro que começou por redistribuir riqueza de forma clandestina e mais tarde assumiu ações armadas. Preso durante a ditadura militar, passou mais de uma década atrás das grades, muitos desses anos em solitária e sob tortura.
Depois da sua libertação, trocou as armas pela política. Fundou o Movimento de Participação Popular (MPP), que integraria a Frente Ampla, e em 2010 chegou à presidência do país. O seu mandato de cinco anos destacou-se pela ousadia social: legalizou a marijuana, aprovou o casamento entre pessoas do mesmo sexo e impulsionou políticas ambientais e sociais pioneiras.
Internacionalmente, Mujica ficou conhecido pelo seu estilo de vida austero. Recusou viver no Palácio Presidencial e preferiu a modesta quinta onde vivia com a mulher, Lucía Topolansky. Doava grande parte do salário presidencial a instituições de caridade e manteve sempre uma postura crítica em relação ao consumismo e à política tradicional.
Figura carismática, admirada por uns e criticada por outros, Mujica será lembrado não apenas pelas reformas progressistas que liderou, mas também por ter sido coerente entre o que defendia e a forma como vivia. Como disse na sua despedida: “A vida é uma bela aventura e um milagre. Estamos demasiado focados na riqueza e não na felicidade.”
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