Coimbra

Morreu Eduardo Lourenço: Investigadora de Coimbra destaca “cultura universal” e clarividência

Notícias de Coimbra | 4 anos atrás em 01-12-2020

A professora Margarida Calafate Ribeiro, uma das responsáveis da cátedra Eduardo Lourenço na Universidade de Bolonha, recordou hoje a “cultura universal” e clarividência do ensaísta, que deve ser visto “como um grande pensador europeu”.

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Eduardo Lourenço deixa “um imenso legado, pela sua clarividência, pela sua cultura universal de um homem pós-Segunda Guerra Mundial, que consegue tornar contemporâneo aquilo que não lhe era contemporâneo”, afirmou à agência Lusa uma das responsáveis da cátedra Eduardo Lourenço na Universidade de Bolonha Margarida Calafate Ribeiro.

A também investigadora do Centro de Estudos Sociais (CES) da Universidade de Coimbra recordou a sua “enorme intervenção política”, ao pensar não apenas Portugal, mas também a Europa e as fragilidades da democracia.

“Era alguém que nos vai fazer muita falta para nos pensarmos no dia-a-dia”, acrescentou, frisando que Eduardo Lourenço deve ser entendido como “um grande pensador europeu”.

Margarida Calafate Ribeiro realçou como, logo em 1958, a partir do Brasil, Eduardo Lourenço reflete sobre o colonialismo e percebe a importância que essa questão vai ter em Portugal, tendo depois também refletido sobre o tema, quando assiste, a partir de França, à Guerra da Argélia.

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Juntamente com o coordenador da cátedra, Roberto Vecchi, a investigadora do CES organizou o livro “Do colonialismo como nosso impensado”, editado pela Gradiva, que reúne os textos de Eduardo Lourenço sobre a questão colonial.

“Ele ficou admirado de serem tantos”, lembrou Margarida Calafate Ribeiro.

Apesar de uma obra “fragmentária” e de “reação ao contemporâneo”, Eduardo Lourenço consegue ser intemporal, permanecendo atuais muitas das suas reflexões, verificou.

“Quando fala das muitas Europas, da democracia, da sua fragilidade mas também da sua excelência, é um pensamento muito contemporâneo. É um homem que pensa sobre a democracia a partir dos autoritarismos do século XX, que vivenciou os sinais e seus efeitos e é alguém que teremos de ler muito atentamente para perceber o que nos está a acontecer hoje”, salientou a investigadora.

Conselheiro de Estado, professor, filósofo, escritor, crítico literário, ensaísta, interventor cívico, várias vezes galardoado e distinguido, Eduardo Lourenço foi um dos pensadores mais proeminentes da cultura portuguesa.

Eduardo Lourenço Faria nasceu em 23 de maio de 1923, em S. Pedro do Rio Seco, no concelho de Almeida, no distrito da Guarda.

Licenciado em Ciências Histórico-Filosóficas, na Universidade de Coimbra, em 1946, aí inicia o seu percurso, como assistente e como autor, com a publicação de “Heterodoxia” (1949).

Autor de mais de 40 títulos, possuiu desde sempre “um olhar inquietante sobre a realidade”, como destacaram os seus pares.

“Os Militares e o Poder”, “Labirinto da Saudade”, “Fernando, Rei da Nossa Baviera”, “Tempo e Poesia” estão entre as suas principais obras.

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