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Momentos críticos como pandemias ou guerras não fazem aumentar suicídio 

Notícias de Coimbra | 3 anos atrás em 03-03-2021

Os dados disponíveis em Portugal não apontam para um aumento do suicídio em tempos de pandemia à semelhança do que aconteceu noutros períodos críticos da História, disse à agência Lusa o psiquiatra Ricardo Gusmão.

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“Há aspetos que de facto são históricos em que percebemos que as comunidades muitas vezes perante a adversidade, paradoxalmente, ficam mais resilientes”, disse o investigador do Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto em entrevista à Lusa, a propósito de um ano de pandemia em Portugal.

Ricardo Gusmão adiantou que noutros países já se olhou para a possibilidade de o suicídio estar a aumentar, porque a Organização Mundial da Saúde chamou a atenção para essa possibilidade, mas isso não aconteceu.

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Também já se analisou os efeitos das pandemias do passado na taxa de suicídio e também não se verificou um aumento deste fenómeno, afirmou Ricardo Gusmão, responsável pela criação de diversos programas de prevenção do suicídio em Portugal.

“Em Portugal, nem em 1918/19 [gripe espanhola], nem em 1957/58 [gripe asiática] nem no ano que passou, em 2020, comparado com a média dos três anos anteriores, para meses homólogos” os dados disponíveis pela Direção-Geral de Saúde, que ainda não estão completamente validados, apontam para esse aumento.

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Tal como não apontam, por exemplo, em Portugal e noutros países, para o aumento do suicídio durante a crise e a após a crise global financeira” ou após um terramoto ou um tsunami.

Ricardo Gusmão deu também o exemplo da Segunda Guerra Mundial, afirmando que durante o bombardeamento aéreo alemão contra Londres, “no meio da adversidade, as pessoas andavam ligeiramente eufóricas e muito solidárias umas com as outras e é possível que o mesmo se tenha passado no primeiro ‘lockdown’ [confinamento]”.

“Chama-se a isto coesão social e resiliência comunitária que também tem sido um tema muito pouco estudado”, disse, acrescentando: “o foco nas consequências económicas e a utilização do impacto negativo na saúde mental para efeitos políticos e de alguma agenda sociopolítica costuma levar a melhor em relação a aspetos que não são assim tão mediatizáveis ou tão chocantes ou tão enquadráveis na agenda política”.

Para o psiquiatra, as pessoas arranjam armas e dispõem de outra solidariedade nestas alturas, mas, ressalvou, “é óbvio que uma parte dessas pessoas não irá beneficiar nem dessa solidariedade, nem tem essas armas”, acabando “por ser precipitado o suicídio porque estão doentes”.

Contudo, vincou, não existe “um suicídio pandémico ou um suicídio económico, existem pessoas frágeis do ponto de vista genético e do desenvolvimento ou até por via da história prévia de doenças, que perante precipitantes que podem ser gerais, como uma pandemia, uma crise global financeira, despertam os efeitos da doença nessa pessoa e podem eventualmente precipitar um comportamento suicidário”.

“Mas que eu tenha conhecimento não há registo de aumento de tentativas de suicídio nem aumento de suicídios em Portugal”, rematou.

Salientou ainda o facto de a população estar a viver um evento de impacto mundial em que é possível discernir que vai haver uma fase histórica pré e pós-covid que “é algo de único no ciclo de vida de uma pessoa”.

“Eu não sou capaz de dizer se, por exemplo, a pandemia vai condicionar uma crise de saúde mental”, porque “essa crise nunca cessou de existir” e a prevalência já é muito elevada em Portugal.

Apontou para a possibilidade de ocorrerem mais 50 a 80 mil novos episódios na linha depressiva, perturbações de ansiedade, e stresse pós-traumático, considerando que a grande maioria dos portugueses estão a viver “uma fase de menor bem-estar”, mas que será transitória.

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