Mundo

Milhares de sobreviventes em situação crítica após os sismos na Turquia e Síria

Notícias de Coimbra com Lusa | 9 meses atrás em 05-08-2023

Seis meses após os devastadores terramotos que atingiram a Turquia e a Síria em 06 e fevereiro, milhares de sobreviventes permanecem expostos a uma situação humanitária crítica, com pelo menos quatro milhões de menores em risco no território turco.

PUBLICIDADE

A atividade sísmica de há seis meses, no sul do país e perto de Ganziatep, capital da província com o mesmo nome e junto à fronteira com a Síria, foi a “mais forte” desde 1995, quando foi instalada a rede nacional de supervisão de sismos, disse à agência noticiosa Europa Press o diretor-geral do Centro Nacional Sísmico turco, Raed Ahmed.

O Gabinete de Gestão de Desastres e Emergências (AFAD) turco, dependente do Ministério do Interior, informou sobre o primeiro terramoto às 04:17 (hora local). Apenas 20 minutos depois, seguiu-se nos arredores de Ganziatep uma réplica com uma intensidade de 6,7 na escala de Richter. Perto do meio-dia, registou-se outro terramoto com intensidade 7,5 com epicentro a quatro quilómetros de Ekinozu, também no sul a Turquia, e a 10 quilómetros de profundidade.

PUBLICIDADE

O atual balanço refere-se a 59.000 mortos e 212.700 feridos, a maioria na Turquia (50.700 mortes e 107.000 feridos).

No entanto, a realidade no noroeste a Síria é mais evasiva: o número de vítimas pode ser muito superior aos 8.400 mortos e 14.500 feridos registados até hoje, devido à impossibilidade de verificação mais precisa no terreno pela situação de guerra e ausência de responsáveis administrativos nesta zona do país.

PUBLICIDADE

publicidade

O impacto nas infraestruturas também foi devastador: 345.000 edifícios afetados, metade dos quais “praticamente destruídos ou danificados” em território da Turquia, incluindo escolas, hospitais e edifícios governamentais, entre outros.

No seu balanço de seis meses do sismo, a organização não-governamental (ONG) britânica Corpo Médico Internacional (IMC) relata como os seus trabalhadores humanitários nas zonas afetadas “são testemunhas de necessidades massivas, desde alimentos básicos e alojamento, até saúde, apoio psicossocial e a necessidade de proteção contra a violência de género”.

Os cooperantes denunciam em particular a situação nas zonas rurais sírias de Alepo e Latakia, devido à escassez de recursos e acessibilidade limitada aos serviços.

A ONG Ação contra a Fome recorda que entre os três milhões de pessoas forçadas a abandonar as suas casas, mais de um milhão e meio continuam a viver em instalações improvisadas e que quatro milhões de menores necessitam de ajuda humanitária no país.

Na Síria, os terramotos exerceram ainda mais pressão sobre os serviços públicos, e alguns setores concretos como a saúde, habitação, meios de subsistência, água e saneamento juntam-se às múltiplas crises que já afetavam o país árabe: um conflito que se prolonga há mais de 12 anos, a pandemia do covid-19, a escassez de combustível, a recessão económica, o surto de cólera e a prolongada seca.

Segundo as Nações Unidas, mais de 15 milhões de sírios necessitam de ajuda humanitária.

“Após a catástrofe, os pais já não podem alimentar adequadamente os seus filhos devido ao ‘stress’. As crianças necessitam de uma alimentação adequada porque poderão ser afetadas mais adiante”, avisou Kenda Al Nsour, coordenadora de nutrição da Ação contra a Fome na Turquia.

Por sua vez, a Aliança para a Soliariedade-ActionAid recorda que 2,3 milhões de mulheres e raparigas ficaram sem acesso a cuidados médicos, em particular atenção médica sexual e reprodutiva.

Com os hospitais e clínicas destruídos pelos sismos e os ataques a instalações sanitárias, a gravidez, o parto e o cuidado aos recém-nascidos tornaram-se perigosos para as mulheres, que também se confrontaram com os piores aspetos de 12 anos de conflito.

“Dar à luz deveria ser um momento feliz para qualquer mãe, mas, pelo contrário, para as mulheres do noroeste da Síria converteu-se num perigoso caminho de obstáculos”, lamentou Alam Janbein, responsável pela resposta humanitária na Síria-Turquia da ONG ActionAid.

“Todas as mulheres têm direito a dar à luz num ambiente seguro e de cuidados. No entanto, como assistimos com demasiada frequência, nas situações de emergência, em primeiro lugar são as necessidades das mulheres que deixam de ser prioritárias”, acrescentou Janbein.

Após o terramoto, o preço dos produtos básicos aumentou 40%, implicando uma carga adicional para as famílias que estavam na miséria. Em muitos contextos em todo o mundo, o casamento infantil pode ser um mecanismo de sobrevivência negativo para aliviar as dificuldades económicas. Num momento em que países do Médio Oriente estão expostos a níveis recorde de inflação alimentar, as adolescentes deparam-se com um risco ainda maior”.

“A gravidez, o parto e os cuidados das crianças não se detêm numa crise. À medida que nos concentramos na recuperação da Síria, os serviços para as mulheres e menores deveriam estar à frente e no centro da resposta internacional, e a sua proteção deve ser uma prioridade”, assegurou a líder da resposta humanitária Síria-Turquia a ActionAid.

“Apesar de o terramoto se ter prolongado por alguns minutos, o número de vítimas entre mulheres e crianças poderá durar toda a vida”, acrescentou.

A Organização Mundial para as Migrações (OIM) também sublinhou em comunicado os esforços do organismo da ONU, juntamente com a Fundação IKEA, para a construção de 450 habitações para os desalojados.

“Com as elevadas temperaturas de verão, a necessidade de alojamentos condignos torna-se numa prioridade, e quando nos empenhamos na reconstrução”, disse Gerard Wait, o chefe de missão da OMI Türkiye.

Related Images:

PUBLICIDADE

PUBLICIDADE