Saúde

Mente humana não foi feita para ficar acordada depois da meia-noite

NOTÍCIAS DE COIMBRA | 3 horas atrás em 17-10-2025

Imagem: depositphotos.com

No silêncio da madrugada, o mundo pode parecer um lugar mais sombrio — e a ciência começa agora a explicar porquê. Um grupo de investigadores propôs a hipótese da “Mente Depois da Meia-Noite”, segundo a qual o cérebro humano funciona de forma diferente após o anoitecer, influenciando as emoções, os comportamentos e até o risco de comportamentos perigosos.

O trabalho, publicado em 2022 na revista Frontiers in Network Psychology, sugere que o ritmo circadiano – o ciclo natural de 24 horas que regula o sono e a vigília – altera profundamente a forma como pensamos e sentimos à noite. Depois da meia-noite, emoções negativas tendem a ganhar destaque, ideias de risco tornam-se mais apelativas e as inibições diminuem.

“Há milhões de pessoas que ficam acordadas no meio da noite, e há evidências sólidas de que os seus cérebros não funcionam tão bem como durante o dia”, alertou a neurologista Elizabeth Klerman, da Universidade de Harvard, uma das autoras do estudo. “Precisamos de mais investigação, porque a saúde e a segurança dessas pessoas – e das que as rodeiam – estão em causa.”

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Segundo os investigadores, do ponto de vista evolutivo, este padrão tem lógica: os seres humanos sempre estiveram mais vulneráveis à noite. A intensificação da atenção a estímulos negativos podia, em tempos, ajudar a antecipar ameaças invisíveis. Contudo, nos dias de hoje, essa mesma sensibilidade pode alimentar pensamentos destrutivos ou impulsivos, sobretudo quando combinada com a privação de sono.

Os autores ilustram a hipótese com dois exemplos: o de um utilizador de heroína que consegue resistir ao consumo durante o dia mas cede ao impulso à noite, e o de um estudante com insónias que, após várias noites sem dormir, sente uma crescente desesperança e solidão.

Estes estados mentais podem ser fatais. As estatísticas mostram que o risco de suicídio é três vezes maior entre a meia-noite e as 6h da manhã. Um estudo de 2020 também identificou a vigília noturna como fator de risco para comportamentos suicidas, possivelmente devido ao desalinhamento dos ritmos circadianos.

O consumo de substâncias perigosas segue o mesmo padrão. Dados de um centro de consumo supervisionado no Brasil apontam para um risco 4,7 vezes superior de overdose de opioides à noite.

Embora parte destes comportamentos possa ser explicada pela falta de sono ou pela sensação de anonimato proporcionada pela escuridão, os investigadores acreditam que existem mudanças neurológicas noturnas ainda pouco compreendidas.

Até agora, nenhum estudo analisou em detalhe como a privação do sono e o ritmo circadiano afetam o processamento de recompensas do cérebro – uma lacuna relevante para profissões como médicos, pilotos ou trabalhadores por turnos, que passam frequentemente a noite acordados.

Durante cerca de um quarto do nosso dia, a ciência ainda sabe surpreendentemente pouco sobre o funcionamento da mente humana. Afinal, a mente depois da meia-noite continua a ser um mistério por desvendar.

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