Cerca de meia centena de estudantes de várias nacionalidades assinalaram hoje, em Lisboa, os dois anos da guerra na Faixa de Gaza, admitindo serem “positivas” as negociações de paz, mas argumentando que tudo “continua a ser gerido pelo ocupante”.
A posição foi avançada aos jornalistas pela estudante italiana Giulia Daniele, diretora do futuro Observatório de Estudos da Palestina (OPAL, que será oficialmente criado a 04 de novembro em Lisboa) e organizadora da manifestação de solidariedade para com os palestinianos, no dia em que se assinala o 2.º aniversário dos ataques do grupo extremista Hamas no sul de Israel, que desencadearam a ofensiva militar israelita em Gaza.
Segundo a também subdiretora do Centro de Estudos Internacionais do Instituto Universitário de Lisboa (ISCTE), em cujos jardins foi realizada a ação de solidariedade, a proposta apresentada pelo Presidente norte-americano, Donald Trump, atualmente discutida no Egito por delegações de Israel e do Hamas, “não é uma de paz”.
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“A proposta de paz é uma que não considero de paz, porque foi e continua a ser gerida pelo ocupante [Israel]. Temos de lembrar mais uma vez o que está a acontecer na Faixa de Gaza, pois está em curso um genocídio, uma limpeza étnica e um ‘apartheid’ na Cisjordânia ocupada e em Jerusalém Oriental ocupado”, defendeu Giulia Daniele.
A também ativista sublinhou defender a libertação de todos os reféns israelitas em posse do Hamas, mas realçou que, do outro lado, estão “cerca de 10.000 palestinianos nas prisões israelitas, que devem também ser postos em liberdade”.
“Estamos a ver uma abertura, uma possibilidade da libertação dos reféns, mas não é suficiente libertar os reféns israelitas. Estamos a falar de 10 mil reféns palestinianos, centenas de crianças palestinianas detidas nas prisões israelitas”, frisou.
Lembrando o relatório elaborada por Francesca Albanese, relatora especial da ONU para a Situação dos Direitos Humanos nos Territórios Ocupados desde 1997, e também as palavras do secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, que assumem que Israel não está a cumprir com a lei internacional nem a respeitar os direitos humanos, a estudante italiana argumentou que estão a cumprir-se “dois anos de genocídio”.
“Temos de lembrar tudo isso para assinalar este dia, estes dois anos de genocídio. Queremos que pare imediatamente e exigimos respeito pelo direito internacional e pelos direitos humanos. (…) Nenhum de nós pode tolerar mais o que está a acontecer na Faixa de Gaza. São atrocidades”, insistiu.
Questionada sobre a razão de a ação de solidariedade se realizar precisamente dois anos depois do ataque do Hamas a Israel e se teria receio de ser mal interpretada por aparentar apoiar o movimento de resistência islâmico, a diretora do futuro OPAL explicou que decidiram avançar por estarem em causa “violações terríveis” aos direitos internacionais e humanos, o que, defendeu, “tem de ser denunciado”.
Também em declarações aos jornalistas, a doutoranda alemã Sophia Kelksch, também coordenadora do Coletivo de Estudantes pela Palestina do ISCTE, insistiu na tónica deixada por Giulia Daniele, considerando que “todos os participantes na ação têm uma responsabilidade ética para os colegas na Faixa de Gaza”.
“Estão a viver um ‘escolaricídio’. Isto significa que todas as escolas, institutos educacionais e universidades foram destruídas. Temos essa responsabilidade ética para os nossos colegas lá”, sublinhou, defendendo que as atuais conversações trazem “uma possibilidade de paz”, embora seja necessário “incluir as vozes dos palestinianos”.
“Como grupo de estudantes, como membros da OPAL, somos a favor do direito internacional. Isso significa que somos a favor de libertar todos os reféns israelitas na Faixa de Gaza, mas também nas prisões israelitas, onde estão agora cerca de 10 mil palestinianos presos. Defendemos o direito internacional e os direitos humanos”, reforçou a doutoranda alemã.
As delegações do Hamas e de Israel estão a negociar no Egito, em conversações indiretas, o plano de paz de 20 pontos apresentado por Trump, na semana passada, depois de receber na Casa Branca o primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu.
O ataque de 07 de outubro de 2023 do Hamas a Israel provocou cerca de 1.200 mortos e 251 reféns. Entre os sequestrados, 47 ainda estão detidos em Gaza, dos quais 25 foram declarados mortos pelo exército israelita.
A retaliação de Israel já provocou mais de 67 mil mortos e cerca de 170.000 feridos, a maioria civis, de acordo com dados do Ministério da Saúde de Gaza (tutelado pelo Hamas), que a ONU considera credíveis.
A ofensiva israelita também destruiu quase todas as infraestruturas de Gaza e provocou a deslocação forçada de centenas de milhares de pessoas.
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