Um ensaio clínico conduzido no Canadá está a surpreender a comunidade científica com resultados promissores: o Ambroxol, um medicamento vulgarmente utilizado na Europa para tratar a tosse e problemas respiratórios, pode ajudar a retardar a progressão da demência associada à doença de Parkinson — algo que até agora nenhum tratamento aprovado conseguiu alcançar.
O estudo foi liderado pelo neurologista Stephen Pasternak, do St. Joseph’s Health Care London e do Instituto de Pesquisa Lawson. Participaram 55 pessoas com demência da doença de Parkinson, tendo sido administrado Ambroxol a parte do grupo e placebo à outra, durante 12 meses. Os cientistas avaliaram o impacto do medicamento em sintomas cognitivos, alterações psiquiátricas e níveis de um marcador sanguíneo de lesão cerebral chamado GFAP.
Embora o Ambroxol não tenha mostrado melhorias significativas nos testes de memória em todos os pacientes, conseguiu estabilizar os níveis de GFAP e os sintomas psiquiátricos, ao passo que estes se agravaram no grupo que recebeu o placebo.
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Mais surpreendente ainda: pacientes com mutações no gene GBA1 — conhecido por aumentar o risco de Parkinson — mostraram melhorias notáveis na cognição, com ganhos de até 11 pontos na Escala Cognitiva da Doença de Alzheimer (ADAS-Cog).
“O Ambroxol poderá proteger o cérebro, sobretudo em pessoas com risco genético aumentado”, explicou o Stephen Pasternak. A chave parece estar na capacidade do medicamento de aumentar a atividade da enzima GCase, essencial para o funcionamento celular e frequentemente em défice em pessoas com Parkinson.
Apesar do estudo ser pequeno e preliminar, a investigação abre novas portas para terapias de medicina de precisão, usando medicamentos já existentes. O Ambroxol é vendido sem receita médica na Europa, mas não está aprovado para uso humano nos Estados Unidos ou Canadá, estando restrito a contextos de investigação, pode ler-se na ZME Science.
Este xarope, que também está a ser testado na Austrália para doenças como a ELA, integra agora vários ensaios clínicos internacionais, como o ASPro-PD, o ANeED e o AMBITIOUS, que procuram explorar a sua eficácia em diferentes doenças neurodegenerativas.
“Se um medicamento como o Ambroxol puder ajudar, poderá oferecer esperança real e melhorar vidas”, concluiu.
Numa era de desafios crescentes nas doenças neurodegenerativas, este estudo recorda-nos que a resposta pode estar mais perto do que pensamos — talvez até no armário dos medicamentos. O próximo passo será validar estas descobertas com um ensaio maior e focado nos pacientes com predisposição genética. Até lá, a ciência continua a respirar um novo sopro de esperança.
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