Novos estudos indicam que mulheres com função cardíaca preservada que receberam beta-bloqueadores após um ataque cardíaco têm maior risco de sofrer outro enfarte, ser hospitalizadas por insuficiência cardíaca e até morrer, em comparação com mulheres que não tomaram o medicamento.
Os beta-bloqueadores, utilizados há décadas como tratamento padrão pós-infarto, não mostraram benefício para a grande maioria dos pacientes com fração de ejeção do ventrículo esquerdo acima de 50% — considerada função cardíaca normal. O estudo, publicado no European Heart Journal e apresentado no Congresso da Sociedade Europeia de Cardiologia em Madrid, acompanhou 8.505 pacientes em 109 hospitais na Espanha e Itália por quase quatro anos.
De acordo com Valentin Fuster, presidente do Mount Sinai Fuster Heart Hospital, esta descoberta poderá levar a uma revisão global das diretrizes médicas, promovendo uma abordagem diferenciada por sexo no tratamento de doenças cardiovasculares.
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“O risco foi particularmente elevado em mulheres que receberam doses altas de beta-bloqueadores”, explicou Borja Ibáñez, diretor científico do Centro Nacional de Investigação Cardiovascular de Madrid. Os resultados não se aplicam a pacientes com fração de ejeção abaixo de 40%, que continuam a se beneficiar do medicamento.
Especialistas destacam que a diferença entre homens e mulheres pode estar relacionada ao tamanho do coração, maior sensibilidade aos medicamentos para pressão arterial e outros fatores biológicos ainda não totalmente compreendidos. Historicamente, os estudos cardíacos focaram-se nos homens, deixando lacunas importantes sobre como as doenças se manifestam nas mulheres.
Embora os beta-bloqueadores continuem a ser amplamente prescritos — cerca de 80% dos pacientes em EUA, Europa e Ásia — os autores alertam para a necessidade de reavaliar a prescrição em pessoas com função cardíaca normal, uma vez que os tratamentos modernos, como stents e anticoagulantes, já melhoraram significativamente a sobrevivência após enfarte.
Uma meta-análise separada indica que pacientes com fração de ejeção entre 40% e 50% podem ainda se beneficiar do uso do medicamento, apresentando redução de cerca de 25% no risco de novos ataques cardíacos, insuficiência cardíaca ou morte, pode ler-se na TVI.
Segundo os especialistas, os achados reforçam a importância de tratamentos personalizados por sexo e condição cardíaca, desafiando práticas médicas que permanecem inalteradas há décadas.
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