Opinião

Matem-se, esfolem-se mas, por favor, longe daqui…

MANUEL MILAGRE | 11 anos atrás em 05-07-2013

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MANUEL MILAGRE

Há muito que, da esquerda à direita, se adivinhava e especulava o fim deste Governo. O que ninguém nunca suspeitou foi em que moldes é que este castelo se desmoronaria e, sobretudo, qual o timing. Eu, pessoalmente, sempre me convenci que Passos e Portas teriam inteligência suficiente (e não seria preciso muita, convenhamos…) para perpetuar este ciclo governativo até ao final da legislatura. A força de uma maioria parlamentar, acrescida pela bênção e o cheque em branco proveniente da Presidência da República, seriam um escudo suficientemente forte para não ser sequer abalado pela oposição, comunicação social, movimentos sindicais e, em doses não exageradas, pela contestação social.

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O que é um facto incontornável é que aquilo que aparentava, que foi prometido e tinha efetivamente todas as condições para ser um tanque de guerra de salvação nacional, não era mais do que um castelo na areia, pronto a ser varrido aos primeiros sinais de subida da maré. Um dos cenários possíveis é o de queda do governo, ainda que não haja eleições antecipadas o que, a verificar-se e feitas as contas, faz com que esta coligação que teve as condições políticas almejadas pelo saudoso Sá Carneiro – “um Governo, um Presidente, uma Maioria” – tenha conseguido aguentar sensivelmente o mesmo tempo que o último Governo de José Sócrates, suportado por uma maioria simples e perseguido politicamente por Cavaco de Silva. Goste-se ou não, este facto revela bem a diferença entre a capacidade de liderança quase selvagem de Sócrates e a tímida e envergonhada de Passos Coelho.

A saída de Gaspar tinha, no meu entender, como objetivo limpar a imagem da governação do crivo da austeridade, recessão e asfixia tributária, norteando o ciclo governativo num renovar de esperanças e na tão desejada e propalada nova fase de investimento. Este seria o prémio do “bom aluno” que Portugal foi, aos olhos da troika, pela mão de Vítor Gaspar. Mas em menos de 24h e de forma absolutamente incompreensível, Paulo Portas conseguiu dizimar por completo o plano de Passos, mergulhando o país numa crise política sem precedentes, transformando o governo num verdadeiro doente terminal – a única certeza que há é a da inevitabilidade da sua morte, mais tarde ou mais cedo…

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O ónus deste marasmo político deve, na minha humilde opinião, ser atribuído praticamente por inteiro a Paulo Portas. De facto, esse grande guru da política nacional conseguiu, com o bater de asas de uma borboleta, provocar um verdadeiro furacão na vida de todos os portugueses. Somos apenas meros espetadores neste espetáculo político e a informação que temos acesso representa tão só o lado teatral da política. Aquilo que verdadeiramente se passa nos bastidores é, aos nossos olhos, apenas um exercício de mera especulação.

Mas no meio destas e doutras questões, neste alvoroço de jogos de cintura, golpes baixos e facadas nas costas, parece-me mesmo que os nossos governantes, da esquerda à direita, se esquecem que estão a brincar com a vida das pessoas e de centenas de milhares de famílias. Esquecem-se que estão a passar um atestado de miséria com uma maturidade de muitos anos, não a eles próprios porque, o futuro, tratará de governar bem as suas vidas mas ao povo que os elegeu e que neles depositou a sua confiança.

Há um limite para a indecência política e esse limite foi há muito ultrapassado quando se colocou em causa, com esta magnitude, o futuro das pessoas em prol de um ajuste de contas de uma rixa política! Portanto, matem-se, esfolem-se mas, por favor, longe daqui...

MANUEL MILAGRE

Engenheiro Civil

Presidente da CPC da Juventude Socialista de Coimbra

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