A companhia de teatro Marionet estreia em Coimbra, na quinta-feira, “Amor e Informação”, peça em que a dramaturga inglesa Caryl Churchill explora a ideia de uma realidade cada vez mais dispersa e fragmentada por força da tecnologia.
“Alguém espirra. Alguém não apanha rede. Alguém conta um segredo. Alguém não vai à porta. Alguém deixou um elefante nas escadas. Alguém não está pronto para falar. Alguém é mãe do próprio irmão”, lê-se na sinopse da peça que a Marionet leva a cena, de quinta-feira a sábado.
No palco do Teatro Académico de Gil Vicente (TAGV), estarão 23 intérpretes que se irão desdobrar em mais de cem personagens que aparecem na peça de Caryl Churchill, escrita a pensar na vertigem provocada pela era da informação, hoje marcada por fluxos contínuos e infinitos de conteúdos nas páginas de redes sociais.
“É uma peça muito interessante pelo modo como está estruturada. Tem mais de 50 cenas, muito pequenas e sem relação, à partida, entre elas. A estrutura consegue estabelecer uma relação com a forma como vivemos, dispersa por muitas fontes de atenção e muito fragmentada”, disse à agência Lusa o encenador da peça e diretor da companhia, Mário Montenegro.
Apesar de encenações passadas desta peça terem remetido as cenas aos tais fluxos das redes sociais, a Marionet optou por tentar “criar uma simultaneidade de ações de diferentes cenas”.
“Haverá muitos pontos de atenção e quem assiste pode direcionar a sua atenção para aqui ou para ali”, procurando recriar a dinâmica do próprio dia-a-dia, em que a atenção de cada um está sempre a ser solicitada a partir de “muitas fontes diferentes”, explicou.
Apesar de poderem estar a decorrer várias cenas ao mesmo tempo, essa simultaneidade é trabalhada a partir da ação e do contexto de cada cena e sem palavra, para evitar uma cacofonia de vozes.
“Há ação de diferentes cenas, mas o som e as vozes surgem de forma individual. O texto é muito percetível. As outras cenas podem estar a ocorrer ao mesmo tempo, mas a nossa atenção auricular pode estar focada num determinado momento”, aclarou.
A peça de Caryl Churchill já tinha sido objeto do projeto “Ler Teatro com Ciência”, em que a Marionet dinamiza leituras de peças de teatro relacionadas com a ciência.
“Queremos uma vez por ano que uma das peças que façamos saia das leituras e desse projeto”, disse Mário Montenegro.
O espetáculo tem uma duração de duas horas e o bilhete custa entre oito e dez euros.
PUBLICIDADE

