Coimbra

Mário Lúcio Sousa realça em livro o papel da crioulização nas novas identidades

Notícias de Coimbra com Lusa | 3 anos atrás em 19-10-2021

O escritor cabo-verdiano Mário Lúcio Sousa realçou hoje, em Coimbra, a importância do processo de crioulização para defender que cada pessoa “carrega em si múltiplas identidades” que importa respeitar.

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“Isto oferece também novas semânticas e metáforas sobre as nossas identidades”, afirmou Mário Lúcio Sousa, em declarações à agência Lusa.

O músico, compositor e escritor falava a propósito da sua última obra, “Manifesto A Crioulização”, que é apresentada hoje, às 19:00, no Teatro da Cerca de São Bernardo, em Coimbra, no âmbito de uma iniciativa da companhia de teatro “A Escola da Noite”.

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“Um indivíduo só pode carregar identidades múltiplas, mas como ele há milhões no mundo”, referiu, associando as suas reflexões à ideia de “uma sociedade com diversas culturas”.

A partir da experiência de Cabo Verde, antiga colónia que alcançou a independência de Portugal em 1975, bem como “dos crioulos pelo mundo”, nasce “uma nova perspetiva sobre as identidades”, salientou.

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Para Mário Lúcio Sousa, “há uma identidade síntese derivada das raízes múltiplas, com a forma de rizoma” dos povos e de cada pessoa, suas línguas, culturas ou mesmo religiões.

“Deixemos então de nos separarmos por causa da identidade”, preconizou, ao propor, nesta área, “uma outra perspetiva que vem do sul para o norte” do mundo.

Na sua opinião, “qualquer que seja a identidade, ela deve ser respeitada” pelos outros, através de um novo olhar que “entra num aspeto mais profundo: a aceitação”.

“O outro é o nosso olhar e nós somos também o olhar do outro. Temos de perceber que ele não está fora de nós”, sublinhou o autor cabo-verdiano.

O indivíduo pós-colonizado, “na verdade, existe antes disso”, frisou, ao referir-se a séculos de colonização, por parte de países da Europa, um pouco por todo o mundo.

“O termo colonialismo – e o modo de falar dele – é feito por quem o criou”, ressalvou.

Os cidadãos de Cabo Verde e de outras antigas colónias têm “algo de diferente a dizer numa perspetiva que não é acusatória”, após “fazerem o luto e entrarem no círculo da gratidão”, o que não pode acontecer “com o coração dorido”.

“Não se faz sem a escuta do outro”, o que traduz “um pensamento íntimo”, expresso na obra “Manifesto A Crioulização”, que definiu como “o país do pós-rancor”.

Esse país, que neste caso, numa “abordagem rizomática”, será Cabo Verde, “existe entre a água salgada e a água doce, entre a terra e o mar”, concluiu Mário Lúcio Sousa.

O livro tem prefácio da autoria do músico Gilberto Gil, ex-ministro da Cultura do Brasil.

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