Economia

Mário Centeno alerta para riscos da retirada de medidas antes do tempo

Notícias de Coimbra | 3 anos atrás em 17-12-2020

O governador do Banco de Portugal (BdP), Mário Centeno, expressou hoje preocupação sobre os efeitos da pandemia na economia nos próximos meses, alertando para a retirada de medidas antes do tempo.

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“Não podemos de deixar de nos preocupar com efeitos que possam vir a resultar ao longo dos próximos meses. Há um conjunto destas medidas, como as das moratórias, que podem gerar preocupações sobre o surgimento de crédito malparado”, disse hoje Mário Centeno em resposta aos jornalistas, após a apresentação do Relatório de Estabilidade Financeira de dezembro.

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O governador do BdP alertou especificamente para os efeitos de ‘cliff-edge’, “no sentido de que há uma interrupção dessas medidas e depois uma dificuldade de adaptação para o período seguinte”.

“Temos que nos preparar para esses momentos e esperar que o conjunto de decisões a serem tomadas permitam uma acomodação dessas situações”, vaticinou Mário Centeno.

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O responsável máximo do banco central salientou, no entanto, que “neste momento, em todos os cenários, e inclusive nos cenários de ‘stress’ que foram sendo desenvolvidos e que estavam já preparados antes da crise pandémica, não existe evidência de que essas situações, sendo acomodadas do ponto de vista das políticas, venham a constituir um problema”.

“Mas elas estão presentes”, reforçou Mário Centeno, acrescentando mais tarde, relativamente às moratórias, que se deve “ir adaptando o conceito à situação presente”.

“Não é recomendável antecipar a retirada de medidas antes da avaliação ser feita”, disse Centeno sobre as moratórias, vincando também que é uma medida “que atua no quadro mais vasto de outras medidas de apoio à economia, ao rendimento e à liquidez”.

Segundo o governador do BdP, “as moratórias são úteis num determinado quadro”, mas “podem ter efeitos negativos na sinalização que é necessária dar aos agentes económicos da necessidade de retomar um conjunto de atividades e responsabilidades que pré-existiam à crise”.

“Acho que devemos ser exigentes e ter o espírito suficientemente aberto no sentido de analisar e responder quando deva ser respondido. Há medidas possíveis de faseamento da retirada de cada uma destas medidas, incluindo as moratórias”, disse o antigo ministro das Finanças.

Em 24 de setembro, o Conselho de Ministros decidiu prolongar por seis meses, até 30 de setembro de 2021, o prazo das moratórias de crédito às famílias e empresas que terminava em 31 de março.

As moratórias bancárias, que suspendem o pagamento das prestações dos empréstimos bancários (capital e/ou juros), já tinham sido alargadas pelo Governo até 31 de março de 2021.

Desde abril que milhares de clientes não estão a pagar os créditos aos bancos, fazendo uso do decreto-lei do Governo que permite moratórias nos empréstimos, criadas como uma ajuda a famílias e empresas penalizadas pela crise económica desencadeada pela pandemia de covid-19.

O Relatório de Estabilidade Financeira de dezembro do Banco de Portugal foi hoje divulgado, e identifica seis principais vulnerabilidades e riscos para o sistema financeiro.

Esses são as “reduções abruptas e significativas de valor em ativos financeiros, face a potenciais episódios de volatilidade extrema nos mercados”, a “correção em baixa dos preços do imobiliário residencial”, ou o “agravamento da dívida das empresas, podendo pressionar a sua solvabilidade”.

Foram também identificados como potenciais riscos o “endividamento dos particulares e das Administrações Públicas no médio prazo”, o “aumento do nexo entre sistema bancário e setor público, expectativa de aumento dos NPL [crédito malparado] e perspetivas de rendibilidade baixa no setor bancário” e a “desadequação dos estímulos monetários e orçamentais aos diferentes momentos da crise”.

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