A Câmara da Lousã criticou hoje a manobra de fogo tático realizada no combate ao grande incêndio que afetou a Serra da Lousã em agosto e considerou que a operação criou riscos e consumiu quase 10% da área ardida.
Em comunicado enviado à agência Lusa, a Câmara da Lousã manifestou a sua discordância face a uma manobra de fogo tático realizada em 17 de agosto, no âmbito do incêndio que começou no Candal, no dia 14.
Segundo o município, aquela manobra foi realizada “numa zona onde não se justificava e em condições de risco acrescido — em pleno dia, com vento, temperatura e humidade desfavoráveis — potenciando projeções que vieram a ocorrer, obrigando ao empenhamento adicional de meios aéreos e terrestres, que assim não puderam corresponder a outras solicitações”.
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De acordo com a autarquia, a operação foi realizada na cumeada entre a estrada nacional 236 e o parque eólico, resultando na destruição de uma área estimada de cerca de 300 hectares (de um total de cerca de 3.500 hectares ardidos), numa zona de floresta “e zona de nascentes de extrema importância que abastecem os lugares limítrofes”.
Contactado pela agência Lusa, o presidente da Câmara da Lousã, Luís Antunes, disse que a informação dada ao município é a de que aquela manobra não foi autorizada pelo comando do combate àquele incêndio, tendo sido apenas ponderada “uma situação muito mais reduzida e numa perspetiva muito mais cirúrgica”.
O autarca disse que poderão ter estado envolvidas várias entidades naquela manobra, escusando-se a referir quais.
A manobra de fogo tático aplicada naquele dia “não teve qualquer impacto” no combate ao incêndio que progredia na Serra da Lousã, notou, esclarecendo que, naquela zona, o fogo “já tinha sido contido”.
O município espera agora que sejam “apuradas as responsabilidades” e que o dano infligido “em termos de património florestal seja devidamente contemplado e ressarcido”.
Questionado pela Lusa sobre se a Câmara da Lousã avançará com uma queixa junto do Ministério Público, Luís Antunes apenas disse que “há formas e possibilidades de apurar responsabilidades” e que o município irá apoiar e acompanhar as ações desenvolvidas pela associação de Catarredor cujos terrenos foram afetados.
“Estamos a verificar, em termos jurídicos, qual a situação que se afigura mais adequada para que a responsabilidade seja apurada”, acrescentou.
Luís Antunes vincou que a Câmara da Lousã nada tem contra o uso de fogo tático no combate a incêndios, mas apenas contra aquela manobra, face ao local e contexto em que a mesma foi aplicada, com consequências que levaram a “uma área ardida próxima dos 10% da área total” consumida pelas chamas.
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