Portugal

Lisboa resiste a efeitos da pandemia mas só turistas dão vida à cidade

Notícias de Coimbra | 4 anos atrás em 14-03-2020

Dois alemães – um em trabalho, outro em turismo -, o dono português de um restaurante, um condutor brasileiro de ‘tuk tuk’ e um excursionista mexicano em Lisboa foram hoje unânimes nas queixas do impacto do novo coronavírus na cidade e nas suas vidas.

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Lisboa acordou hoje com sol e temperaturas acima dos 20 graus, como se o tempo e o calor estivessem a desafiar a resiliência do vírus que ama o frio, mas à cautela, a maioria dos portugueses não saiu à rua, e nos lugares mais históricos e emblemáticos da capital foram os turistas a manter a cidade viva e ativa, apesar de muitos terem ido ao engano até Belém, onde esbarraram num Mosteiro dos Jerónimos fechado ao público.

Uma destas vítimas “colaterais” da pandemia e das medidas restritivas foi o estudante universitário alemão Nico Follmer, de 19 anos, de Munique, que hoje de manhã se deslocou propositadamente até Belém para visitar a “igreja e o mosteiro” dos Jerónimos, onde à porta uma fita colorida dizia: “Do Not Pass” (“não passar”).

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“Vim até cá [aos Jerónimos] porque não sabia que estava fechado. É uma pena porque pretendia visitar a igreja e o mosteiro”, disse à agência Lusa o jovem alemão, de óculos escuros, lamentando que na internet não tenha encontrado a informação de que os monumentos e museus estão encerrados por causa da pandemia Covid-19, provocada pelo novo coronavírus.

Nico, que hoje completa o seu quinto dia de férias em Lisboa, depois da sua universidade na Alemanha ter fechado por precaução, constata que na capital portuguesa agora “não há nada para fazer”, pois os “bares estão fechados” e já “ninguém sai à noite”.

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Segundo diz, na Alemanha, “a situação é pior”: “As escolas e universidades estão fechadas, assim como os bares e as discotecas”.

O seu maior receio, confessou, apesar de aparentemente despreocupado, é ser infetado com o vírus e transmitir aos avós, que sofrem de diabetes. Quanto ao futuro, e caso a pandemia seja vencida, prometeu voltar de férias a Portugal, nem que seja para encontrar o Mosteiro dos Jerónimos aberto.

Nas imediações dos Jerónimos, onde estão as ossadas do navegador Vasco da Gama e do peota Luís de Camões, andava também uma excursão de estudantes mexicanos, que chegou no sábado a Lisboa e que hoje, num autocarro de turismo com guia, foram conhecer a zona de Belém e tirar ‘selfies’ junto ao Centro Cultural de Belém.

Angel Aldrete, 17 anos, explicou à Lusa que os estudantes vieram de tão longe para “explorar a cidade” e “divertirem-se” em férias. Apesar de assumir que existe preocupação quanto ao coronavírus, vincou que o grupo “não tem medo” e está “vivendo a vida”.

O maior receio de todos, admitiu, prende-se com o regresso a casa e com a possibilidade de serem todos colocados em quarentena porque estiveram numa Europa infetada, pois isso implicava perderem duas semanas de aulas e abdicarem de uma vida normal.

Foi com alegria e despreocupação que os adolescentes mexcicanos regressaram ao autocarro, a caminho da próxima paragem turística de uma cidade que parece meio-adormecida, mas não deserta.

Edilson, um brasileiro a residir em Portugal e que ganha a vida a conduzir um ‘tuk tuk’, contou que, apesar do bom tempo, o número de turistas tem vindo a baixar. Sublinhou, contudo, que não deixou de ter sorte em arranjar duas clientes francesas, que foram ver os Jerónimos e vão regressar pela estrada junto ao Tejo, onde alguns casais passeiam os filhos na relva e outros fazem ‘jogging’ na zona ribeirinha.

Pragmático, Edilson enaltece as vantagens do ‘tuk tuk’ face aos elétricos, que andam “cheios” de turistas e não só, onde o contágio é mais fácil, enquanto o ‘tuk tuk’ oferece maior segurança a todos por ser um veículo “aberto e arejado”.

Desanimado com o negócio estava Angelino Oliveira, dono do restaurante Adamastor, em Belém, porque “cada vez mais se verifica um abaixamento de visitas de turistas e de pessoas” numa zona da cidade onde o congestionamento de pessoas e carros é frequente em dias normais, sem sombra de vírus.

Segundo contou, com a pandemia, “os portugueses estão a alterar” os seus hábitos de comer fora e os turistas começaram a escassear, revelando que a atual situação “é crítica” para a restauração e poderá vir a piorar caso o Governo determine o fecho das fronteiras portuguesas ou condicione ainda mais os voos do resto da Europa.

“Nós próprios temos um estabelecimento que está encerrado e ponderamos seriamente fechar este restaurante nos próximos dias”, disse.

No Terreiro do Paço, junto ao Cais das Colunas, a jovem alemã Melanie Seiler, sozinha, contou que veio a Portugal porque trabalha em turismo e pretendia participar na BTL-Bolsa de Turismo de Lisboa, evento recentemente cancelado.

Contou que, em Portugal, os hotéis não estão a contratar pessoal ligado ao turismo porque muitas marcações estão a ser canceladas e as unidades estão a ficar vazias, razão pela qual optou por regressar à Alemanha mais cedo, já no domingo.

Pela sua experiência na área do turismo, esclareceu que as pessoas estão a cancelar as visitas turísticas a Portugal e a outros países não tanto pelo medo de contraírem o coronavírus, mas com medo de terem de ficar de quarentena ou de ficarem retidas num país estrangeiro sem conseguirem regressar atempadamente a casa.

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