Portugal

Lisboa Capital Europeia da Cultura 94 entre o sucesso e “o pouco que ficou”

Notícias de Coimbra | 4 anos atrás em 29-01-2020

Lisboa Capital Europeia da Cultura 94 entre o sucesso e “o pouco que ficou”

Antigos responsáveis da Lisboa Capital Europeia da Cultura 94 divergem na avaliação da iniciativa, com Santana Lopes a assinalar o sucesso numa década de Portugal “quase sempre em festa” e João Soares a lamentar “o pouco que ficou”.

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“Correu bastante bem, foi muito positivo”, disse à agência Lusa Pedro Santana Lopes, que em 1994 era secretário de Estado da Cultura do segundo Governo de Cavaco Silva.

Recuando quase 30 anos e não se cingindo apenas à iniciativa Lisboa Capital Europeia da Cultura 94, Santana Lopes lembrou uma década de “uma atividade cultural febril, incessante”.

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“Estávamos na década dos 500 anos dos Descobrimentos, tínhamos tido a Europália em 1992, que foi a exposição sobre Portugal em Bruxelas, depois foi a Capital Europeia da Cultura, depois os 500 anos da chegada à Índia, depois a Descoberta do Brasil em 2000”, recordou, falando nos anos 90 como “uma década quase sempre em festa, com grandes produções” em que se teve de “investir muito e dedicar muito tempo às celebrações”.

Concretamente sobre a Capital Europeia da Cultura, Santana Lopes, que anos mais tarde, em 2001, viria a assumir a presidência da Câmara de Lisboa, destacou os “benefícios que trouxe para a cidade”, que conheceu ao longo daquele ano um reforço da programação cultural, em qualidade, quantidade e dimensão.

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“Houve temporadas reforçadas, várias orquestras vieram cá tocar, convidados estrangeiros, exposições também com peças de arte de fora que vieram”, lembrou.

Além disso, a atribuição da distinção de Capital Europeia da Cultura serviu também como mote para a reabilitação de vários equipamentos da cidade, como o Museu da Arte Contemporânea.

Mas, a “grande obra” foi o Coliseu dos Recreios, que era até essa altura “uma sala com condições antigas, deficientes” e “foi modernizado para ter as condições atuais”.

A obra do Coliseu dos Recreios, que representou um investimento de quase 10 milhões de euros, é, aliás, praticamente o único ponto de ‘concórdia’ entre Santana Lopes e o então vereador responsável pelo pelouro da Cultura na Câmara de Lisboa, João Soares.

“Pode-se dizer que o Coliseu de alguma maneira, nesse desastre do ponto de vista patrimonial que foi a Capital Europeia da Cultura em 1994, o Coliseu foi a única coisa que escapou e o Museu de Arte Contemporânea no Chiado”, disse à agência Lusa João Soares.

Bastante mais crítico que o então secretário de Estado da Cultura, João Soares lamentou que nunca se queira fazer “avaliações rigorosas”.

“Ninguém quer fazer avaliações rigorosas, é uma das nossas qualidades e um dos nossos grandes defeitos enquanto portugueses. Nunca avaliamos as coisas com a frieza do rigor milimétrico”, salientou, acrescentando que, em relação a Lisboa Capital Europeia da Cultura 94, a avaliação que faz é que “ficou muito aquém daquilo que teria sido possível”.

Com um orçamento de cerca de 40 milhões de euros, segundo João Soares, o investimento foi quase todo gasto em eventos.

“Ficou muito pouco em relação ao que podia ter ficado”, salientou João Soares que, depois de Jorge Sampaio se demitir da Câmara de Lisboa para se candidatar à Presidência da República, passou a chefiar a autarquia da capital.

Com o “tanto dinheiro que se gastou”, a aposta de João Soares teria sido outra: “Teria feito outro tipo de opções, teria apostado na renovação do património, nas edições, nas coisas viradas para as escolas”.

“O balanço que eu faço não é um balanço negativo, mas acho que podia e devia ter sido diferente (…). Não foi negativo, não sou pessimista, mas acho que também não é caso para se dizer que foi bom, podia ter sido diferente”, resumiu.

De acordo com o balanço realizado no dia do encerramento da Lisboa Capital Europeia da Cultura, em 17 de dezembro de 1994, pelo comissário da iniciativa, Vítor Constâncio, ao longo dos dez meses que durou a iniciativa realizaram-se mais de 1.300 apresentações, com 530 projetos diferentes.

“Lisboa 94 não representou um mero ato de consumo cultural, expresso num grande festival de artes. Procurámos que fosse também um investimento no futuro da cultura e dos seus criadores, deixando como herança novas obras, novos públicos e renovados equipamentos culturais”, disse na altura Vítor Constâncio, referindo as novas exigências que se iriam colocar às entidades responsáveis pela cultura.

“A aposta foi ganha e a aventura valeu a pena”, considerou o então presidente da Câmara de Lisboa, Jorge Sampaio, no dia do encerramento.

Além de Lisboa, em 1994, Portugal já recebeu a Capital Europeia da Cultura em mais duas ocasiões: o Porto, em 2001, e Guimarães, em 2012.

Portugal acolhe novamente em 2027, juntamente com uma cidade da Letónia, a distinção de Capital Europeia da Cultura.

Aveiro, Leiria, Faro, Viana do Castelo, Coimbra, Évora, Braga, Guarda e Oeiras já anunciaram que vão apresentar uma candidatura.

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