Portugal

“Línguas de fogo com mais de 40 metros de altura”. Relatos dos moradores das aldeias de Murça atingidas pelo incêndio

Notícias de Coimbra com Lusa | 2 anos atrás em 19-07-2022

Os residentes das aldeias de Murça atingidas pelo fogo recordaram hoje momentos assustadores, em que se uniram para ajudarem a salvar vidas, casas e animais das chamas que pintaram de negro todo o norte do concelho.

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“O fogo atingiu dimensões nunca vistas, com projeções por todo o lado, mesmo no interior da aldeia, em alguns casebres abandonados, havia ignições. Esteve bastante complicado”, afirmou João Teixeira, residente em Mascanho e coordenador técnico da Associação Florestal do Vale do Douro Norte (Aflodounorte).

Foi na sede da associação, uma antiga casa florestal, que a agência Lusa encontrou João Teixeira. Localizada no parque florestal de Mascanho, a casa ardeu por completo.

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“Felizmente tivemos os bombeiros que estavam sempre por perto, mais os populares que não saímos. Em situações destas as pessoas que têm capacidade devem ficar para ajudar e foi isso que também salvou a aldeia”, salientou, referindo-se ao incêndio que deflagrou no domingo, em Cortinhas, e que na segunda-feira atingiu grandes dimensões.

Residentes mais idosos de Mascanho foram retirados por precaução para a vila de Murça, tendo já regressado. Pouco antes do meio-dia estavam também a regressar a casa 63 populares de Serapicos e Ribeirinha, que permaneciam no pavilhão desportivo, faltando ainda 12 de Parede e Salgueiro.

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“Nas habitações não houve danos, só na agricultura que é o que se vê. Tudo completamente destruído”, apontou João Teixeira.

O mesmo não aconteceu à sede da Aflodounorte “apesar de tudo limpo recentemente à volta”. “Foi fogo de copas, estas árvores adultas estão completamente desidratadas e com o calor, certamente, atingiu aqui a casa e ardeu”, contou.

João Teixeira referiu que o “fogo chegou muito rapidamente”. “Em poucos minutos estávamos rodeados de fogo. Nestas situações, com estes declives, com esta vegetação e com este combustível, estes fogos são incontroláveis. Ou se combatem logo numa fase inicial ou então é impossível, mesmo espécies que são mais resistentes ao fogo, temos aqui um campo de carvalhal e está completamente consumido pelas chamas”, frisou.

Para além de uma extensa área de pinhal, o fogo consumiu oliveiras, castanheiros e colmeias.

Paulo Augusto é operador florestal da Aflodounorte e descreveu “um dia muito complicado” que se viveu na segunda-feira.

“Foi um dia bastante duro. Foi tentar proteger aquilo que é nosso, mas infelizmente não tivemos a capacidade de resposta para defender”, disse, referindo que a sua equipa estava na casa florestal no momento em que o fogo chegou.

Foi, contou, “uma coisa tão rápida” e “chamas, línguas de fogo, com mais de 40 metros de altura”.

“Só tivemos tempo de meter a manga em cima do carro e fugir”, frisou, acrescentando que, de seguida, foram para as aldeias ajudar.

“Andámos em Valongo de Milhais, em Serapicos, a tentar proteger as habitações, os bens essenciais e a população”, sublinhou.

Pelas aldeias ameaçadas por fogo, esta equipa de sapadores florestais foi abrindo as portas aos animais domésticos.

Paulo Augusto disse que em poucas horas viu destruir tudo o que passava o ano a proteger.

A estrada que desce à aldeia de Penabeice é estreita e íngreme. Foi a sair da aldeia que um casal de idosos morreu, depois do carro onde seguiam ter caído numa ravina. Foram encontrados já mortos e as causas do acidente estão a ser investigadas pela GNR.

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