É impossível ganhar a principal liga de futebol em Portugal. Porque mesmo quando se vence, é-se enterrado pelos adversários num atoleiro de suspeitas e acusações que, podendo provocar entusiasmo nas claques de fanáticos, cansam todos os que, pura e simplesmente, gostam do jogo.
Terminadas as competições e entregues as taças, o futebol português mergulha ainda mais profundamente no ambiente tóxico que, em boa verdade, dura toda a época. E assim se torna impossível desfrutar do essencial – o prazer do jogo, da competição, do talento – mesmo por parte dos vencedores. Em vez disso, instala-se um sufocante clima de suspeição, onde cada vitória é impossível sem fraude e cada derrota é o resultado de uma conspiração.
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Os protagonistas deixam de ser os jogadores em campo (eles que já passam o ano inteiro afastados dos microfones por dirigentes de quem ninguém que valorize o futebol quer verdadeiramente saber), numa guerra que só não merece esse epíteto porque, como disse o técnico italiano Arrigo Sacchi, o futebol é apenas a coisa mais importante entre as menos importantes.
E mesmo aqueles que insistem em olhar para o futebol como quem olha para uma folha de cálculo devem concordar que este ambiente não é apenas desgastante — é prejudicial. O futebol, enquanto negócio, vive da integridade percebida da competição, mas quando os próprios responsáveis pelos clubes minam esse pilar e desvalorizam o produto que vendem, o que resta? Quem investe num campeonato onde se diz que tudo está manipulado? Que patrocinador quer ver o seu nome associado a um jogo onde a narrativa dominante é a da batota e da mentira?
Mas, para mim, a pergunta que realmente interessa fazer é: Que jovem adepto se apaixonará por um desporto onde os ídolos são usados como escudos numa guerra institucional que nada tem a ver com desporto?
No fim, todos perdem. Perde o campeão, que vê o seu mérito desvalorizado. Perdem os rivais, que se recusas a aceitar responsabilidades. Perdem os adeptos, que são tratados como instrumentos de pressão ou peões num jogo de bastidores. Perdem os jogadores, cujos feitos são postos em causa por uma cultura que não sabe reconhecer o mérito.
Bill Shankly, lendário treinador do Liverpool nos anos 1960 e 1970, tornou célebre a frase «Algumas pessoas pensam que o futebol é uma questão de vida ou de morte. Garanto-vos que é muito mais sério do que isso». Tem a sua piada e é, indiscutivelmente, um bom dichote bem conseguido sobre a paixão pelo jogo, mas também é uma enorme mentira. Em Portugal, infelizmente, há muitos que não conseguem perceber o tom humorístico e irónico da tirada. E é por isso que, sempre que há um campeão, todos somos derrotados. Jogamos todos a liga dos últimos.
OPINIÃO | PEDRO SANTOS – ESPECIALISTA EM COMUNICAÇÃO
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