Coimbra

Jovem de Coimbra aguarda há dois anos por nova cadeira de rodas elétrica (com vídeo)

Zilda Monteiro | 1 ano atrás em 30-11-2022

Bernardo Lopes, 28 anos, aguarda há mais de dois anos por uma nova cadeira de rodas elétrica. Apesar do processo já ter sido deferido pela Segurança Social (SS) de Coimbra, o dinheiro continua a não chegar, o que está a condicionar a qualidade de vida deste jovem, que reside em S. Facundo, na União das Freguesias de Antuzede e Vil de Matos, em Coimbra.

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Tratado carinhosamente por “Becas” pela família e amigos, Bernardo Lopes, diagnosticado com paralisia cerebral espástica motora quando tinha um ano, contou ao Notícias de Coimbra que entregou o pedido em junho de 2020 na SS. A cadeira que utiliza atualmente foi-lhe emprestada pela Associação de Paralisia Cerebral de Coimbra (APCC) mas não é adequada às suas necessidades, tendo sido inclusive a fisioterapeuta da instituição a aconselhar o jovem a pedir à SS uma nova cadeira, uma vez que a dele tinha já 10 anos quando a vida útil deste tipo de equipamentos é de cinco.

Para além disso, era também necessário ter em conta o crescimento de Bernardo e as patologias de que padece, tendo dores frequentes que o levaram a realizar já várias operações. Para garantir a sua qualidade de vida, precisa de uma cadeira de rodas que se adapte às suas condições mas esta tarda em chegar.

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Depois de entregue o processo, veio a pandemia da covid-19 e a família não recebeu qualquer contacto da SS. Assim, em março deste ano, Bernardo Lopes telefonou para saber se tinha ou não sido aprovado. Foi informado de que faltava apenas confirmar se pertencia ao Serviço Nacional de Saúde (SNS) ou à ADSE, o que foi prontamente preenchido. Em maio, recebeu finalmente a carta com a ansiada informação da aprovação, que tinha ocorrido logo em março, mas foi-lhe dito também que era necessário aguardar pelo dinheiro para comprar a cadeira.

Como este demorava a chegar, dirigiu-se novamente à Segurança Social. “Não me queriam atender mas disse que não saía de lá. Foi-nos dito então que o processo estava deferido e que só estavam à espera que viesse o dinheiro de Lisboa”, contou. Duas semanas depois, novo contacto, dessa vez por telefone. Foi informado que Lisboa tinha mandado 15 mil euros mas que como o valor não era suficiente para comprar a cadeira, que custa cerca de 26 mil, essa verba tinha sido canalizada para outros projetos.

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Bernardo Lopes ficou incrédulo, uma vez que essa verba já dava para “encomendar a cadeira”. Diz, assim como a mãe Carla Bernardo, de 49 anos, que está “cansado deste jogo do empurra” e só pede celeridade na resolução do seu processo, de forma a ter uma cadeira de rodas elétrica que lhe dê a necessária autonomia e o alivie das dores de que padece, tanto na anca como nas costas.

“É uma questão de saúde e bem estar. Se não estiver bem fisicamente não está psicologicamente”, realçou a mãe. Contou ainda que o filho recebe uma pensão vitalícia de 96,26 euros e que “se estivesse bem financeiramente não esperava pelo dinheiro da SS porque eles não sentem as dores” de Bernardo.

Carla Bernardo sublinhou, ainda, que é importante assegurar todos os cuidados para garantir que o estado de saúde do filho não se agrave e apelou também para que as pessoas com esta patologia sejam estimuladas porque, apesar das limitações, “têm muito para dar ao país”.

Bernardo Lopes enviou vários emails sobre este processo, nomeadamente ao Primeiro-Ministro, ao Presidente da República, à Confederação das Pessoas com Deficiência e à ministra da Segurança Social. Há sempre uma resposta mas o “jogo de pingue pongue” não acaba, já que, como explica, “todos reportam o caso para a Segurança Social de Coimbra, que é quem deve resolver mas que, por sua vez, justifica o atraso com Lisboa, que não envia o dinheiro”.

Tem sido assim no decorrer dos meses mas o jovem não desiste. Depende da cadeira para sempre, usa-a desde os seis anos e esta é a quarta que pede à SS.

Enquanto a resposta não chega, recorre à que lhe foi emprestada pela APCC, instituição a quem muito agradece. Lembrou, contudo, que a demora está a trazer encargos extra à família, que já teve que gastar 300 euros numa nova bateria para a cadeira e que vai ter que comprar dois pneus novos, cujo custo deverá ultrapassar os 100 euros.

Lamentou também a insensibilidade com que, por vezes, tem sido tratado na SS. Não queria acreditar, por exemplo, quando uma das técnicas lhe disse que tinha que “negociar” aulas online com a Faculdade. “Tenho uma vida social intensa, tenho muitos amigos, não perco uma Queima… Sou um jovem que sai de casa e que precisa de o fazer”, frisou, recordando as divertidas noites académicas e os cortejos, bem como os convívios e os muitos encontros com amigos, inclusive em tempos de pandemia.

A patologia de Bernardo Lopes surgiu, segundo a mãe, na sequência de um parto prematuro, às 29 semanas, com apenas 1.420 quilos. A paralisia só foi detetada quando tinha um ano e o diagnóstico surgiu aos seis.

Carla Bernardo diz que o filho não tem qualquer problema cognitivo, como o testemunha, aliás, o seu percurso académico. Tem limitações físicas desde bebé e, para além de precisar de uma cadeira de rodas para se movimentar, só consegue comer com a mão esquerda e não escreve à mão. Fá-lo no computador mas cansa-se facilmente.

Sabe que o filho “vai passar o resto da vida numa cadeira de rodas elétrica”. Conta ao Notícias de Coimbra que tinha 21 anos quando foi mãe e admite que “não foi fácil”. Fácil foi aceitar o Bernardo, difícil foi aceitar o diagnóstico e os problemas que a patologia provoca, como as várias cirurgias que teve que efetuar nestes 28 anos, a primeira quando tinha apenas dois meses e meio de vida.

Mas, apesar de tudo, tem conseguido garantir ao Bernardo uma vida de qualidade e, dentro do possível, normal. O ensino básico foi feito na APCC mas depois quis continuar no ensino normal. Frequentou a escola de S. Silvestre do 5.º ao 9.º ano, daí seguiu para a Escola Secundária de Avelar Brotero. Terminado o secundário entrou na Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, onde tirou duas licenciaturas, primeiro a de História de Arte e depois a de História. Atualmente é um aluno de Mestrado em História Moderna. Fundou a Pró-Secção de Boccia da Associação Académica de Coimbra (à qual preside), com o objetivo de “promover a prática de desporto e ajudar a academia a ter melhores condições para as pessoas com deficiência”.

No seu percurso, tem-se deparado com muitas dificuldades, sobretudo as muitas barreiras a nível da mobilidade, como “a falta de rampas nas entradas de edifícios, outras mal colocadas”. Depois há a “falta de civismo das pessoas”, que não respeitam os lugares/infraestruturas destinados aos deficientes, como no estacionamento e casas de banho.

Mas tudo isso tem aprendido a ultrapassar. Também não podia ser de outra forma, já que começou a andar de cadeira de rodas aos seis anos. Conta que já teve três cadeiras da SS e esta, pela qual continua ansiosamente à espera, será a quarta. Renova por isso o apelo à SS para que seja célere a resolver o seu problema, já que a cadeira é fundamental para garantir a sua saúde e mobilidade mas, acima de tudo, para lhe poder garantir uma vida o mais normal possível.

Veja o vídeo do direto NDC:

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