Jorge talha colheres de pau desde os 11 anos. Natural da aldeia de Pardieiros, na freguesia da Bem Feita, Arganil, é hoje o último artesão da sua terra a manter viva esta tradição.
“Quando comecei, éramos 20 a fazer colheres. Agora sou o único”, conta em entrevista ao Notícias de Coimbra.
O seu trabalho é inteiramente manual e cada colher nasce do corte da madeira de pinho, uma escolha que, segundo ele, é tradição antiga e que dá um sabor especial aos alimentos. “Sempre usei esta madeira. Lá na freguesia já era assim. É boa para a cozinha e dura muito.”
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Jorge começou a ir a feiras de artesanato ainda jovem. Com o tempo, percorreu o país de norte a sul, participando em diversos certames.
Durante décadas, bastava-lhe sair de casa para encontrar a matéria-prima. Mas em 2017, um incêndio florestal destruiu grande parte da vegetação da zona onde vivia e trabalhava. Desde então, Jorge tem de procurar madeira fora da sua região, o que aumentou os custos e a dificuldade de manter o ofício.
“Antes, fazia colheres de manhã e vendia à noite. Agora, é mais difícil. A madeira de pinho, que sempre usei, já não encontro na minha zona e preciso ir buscá-la fora, o que encarece tudo”, explica.
O preço subiu, mas Jorge continua a vender as colheres quase ao mesmo valor de há 20 anos. “As pessoas dizem que é caro, mas os preços mantêm-se quase desde o escudo. É muito trabalho. E hoje em dia ninguém quer trabalhar assim.”
Apesar das dificuldades, não pensa parar. “Quero fazer colheres até aos 120 anos.”
Num tempo em que as máquinas e a produção em massa dominam, Jorge representa um ofício raro, feito à mão, com tempo, com alma e que vai resistindo enquanto houver madeira, força nos braços e vontade no coração.
Na Ceirarte, Jorge não só expõe como também demonstra ao vivo o processo artesanal, encantando o público com a sua habilidade e resiliência.
Veja o direto:
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