O público começa hoje a ser desafiado a ver para além do olhar, na estreia de “Quarto Escuro de Goethe”, que leva à Sala B do Teatro Académico de Gil Vicente, em Coimbra, um jogo de luzes, sombras e sons.
“Nesta performance-instalação é construído um dispositivo para uma dramaturgia da luz. A luz é o elemento principal desta peça”, destacou Eunice Gonçalves Duarte, artista e investigadora doutoranda em Estudos Artísticos na Universidade de Coimbra.
A Sala B do Teatro Académico de Gil Vicente (TAGV) acolhe, de 22 a 31 de outubro, a estreia de “Quarto Escuro de Goethe”, a primeira criação artística em Coimbra de Eunice Gonçalves Duarte.
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Em declarações à agência Lusa, a criadora desta performance-instalação explicou que a peça foi inspirada no livro “Teoria das Cores”, de Johann Wolfgang von Goethe, “um poeta do século XIX que, curiosamente, era também um cientista e interessava-se pelos fenómenos naturais”.
“É uma obra peculiar, porque é um manual de experiências empíricas deste poeta. Quando notei este manual de experiências empíricas, quis realizar essas experiências e foi por aí que o trabalho cresceu”, acrescentou.
À medida que foi replicando essas experiências, Eunice Gonçalves Duarte foi “percebendo o fenómeno da manifestação das cores, que Goethe anuncia que está ligado à luz e à junção entre luz e escuro”.
“Nesta obra, o que pretendo é, partindo do posicionamento onde nós estamos, vermos coisas diferentes. Este dispositivo é criado para produzir essa sensação: se eu estiver num determinado ponto, eu vou ver um efeito, mas se estiver num outro ponto, eu irei ver outro efeito”, referiu.
À agência Lusa, a criadora vincou ainda outra qualidade do livro de Goethe, que se prende com “a ideia de transformação”.
“Um objeto vai-se transformando e quase que não há paragem. Transforma-se num e vai para o outro vai e é continuamente uma transformação”, sustentou.
A performance-instalação, que cruza arte, ciência e pensamento, propõe uma experiência imersiva de 20 minutos, “explorando a perceção, o visível e o invisível, a luz e a sombra, a razão e a intuição”.
Com entrada livre, a lotação é limitada a duas pessoas por sessão, que são convidadas a colocar auscultadores e a descobrir, num quarto escuro, a experiência da cor, entre a luz e a sombra. A peça decorre em ‘loop’ contínuo, entre as 17:00 e as 20:00, de 22 a 31 de outubro.
O projeto segue depois para o Goethe-Institut em Lisboa, em março de 2026, com itinerância prevista para Penafiel (distrito do Porto), e o Teatro-Cine de Gouveia (distrito da Guarda).
A peça prolonga-se também para além do espaço expositivo através de um ciclo de ‘podcasts’, que ampliam o diálogo entre arte e ciência.
A primeira sessão será lançada a 04 de novembro, com Benilde Costa (física), sendo dedicada à atualização do capítulo das Cores Químicas da Teoria das Cores.
Seguem-se conversas com Marta Teixeira (neuropsicologia), em novembro, Vítor Cardoso (física), em março de 2026, e Maria Filomena Molder (filosofia), em abril de 2026.
Cada episódio propõe “uma reflexão sobre a cor, a perceção e o pensamento, continuando a investigação artística que nasce na performance-instalação”.
Além das apresentações públicas, o projeto prevê “ações pedagógicas e visitas em contexto escolar, nas quais a equipa artística partilhará o processo de investigação, os princípios de Teoria das Cores e a relação entre arte e ciência”.
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