Educação

João Dias da Silva diz que nunca será possível corrigir todas “as injustiças” aos professores

Notícias de Coimbra com Lusa | 1 ano atrás em 14-02-2023

O secretário-geral da Federação Nacional da Educação (FNE) atribuiu a mobilização dos profissionais do setor à insatisfação que os governos deixaram acumular e admitiu ser impossível corrigir todas “as injustiças” que afetaram os docentes.

PUBLICIDADE

Em entrevista à agência Lusa, João Dias da Silva elegeu os concursos de colocação de professores, atualmente em negociação com o Ministério da Educação, como a matéria em que será “mais difícil” reunir consenso.

“É aquela área em que é mais difícil conseguir soluções em que todos se sintam bem, sobretudo porque fomos acumulando ao longo do tempo uma série de injustiças relativas”, justificou, citando como exemplo os professores que em determinado momento conseguiram, ao abrigo das normas vigentes, aceder à categoria de professor titular e, assim, obter “determinados lugares” nas escolas.

PUBLICIDADE

“Não é mais possível corrigir aquilo que foram as injustiças relativas daqueles que, não sendo professores titulares, não ocuparam essas vagas”, admitiu, concordando com os docentes que se sentem injustiçados e reconhecendo legitimidade a quem recorreu a uma prerrogativa da lei.

Na opinião de Dias da Silva, a presente mobilização dos profissionais da educação para greves e manifestações em grande escala é mais fruto da insatisfação de muitos anos, em matérias laborais e salariais, do que da introdução de um novo fator na equação do descontentamento, o Sindicato de Todos os Profissionais da Educação (Stop).

PUBLICIDADE

publicidade

“Continuamos a ter o mesmo conceito, as mesmas ferramentas [na ação sindical], que vamos utilizando de forma diferente. A intensidade com que se está a usar agora também é decorrente da verificação daquilo que é a intensidade do desgosto e da insatisfação das pessoas”, considerou.

De acordo com Dias da Silva, as redes sociais possibilitam hoje um maior e mais rápido envolvimento na expressão e congregação desse descontentamento, mas as ferramentas básicas na luta sindical continuam a ser as mesmas: greves, vigílias, manifestações, concentrações, desfiles, cordões humanos.

Os governos, sublinhou, “deixaram acumular uma quantidade enorme de insatisfações” e hoje cada um “traz a sua insatisfação” e é “sindicalista de si próprio”, o que é “mais difícil de gerir”, admitiu.

“Se pusermos 50 professores numa sala para cada um dizer o que quer, vamos ter, eventualmente, situações de contradição e de haver propostas que se contradizem. O papel dos sindicatos tem sido o de procurar ver quais são as reivindicações que podem servir a todos e não estabelecer reivindicações que possam colocar professores uns contra os outros. E é isto que tem de se evitar”, defendeu.

Ao e-mail da FNE chegam contactos de professores aposentados a exigirem que seja recalculado o valor da pensão, caso sujam avanços na contagem do tempo de serviço que os sindicatos querem recuperar.

“Os professores que estão a um ano da aposentação, de que forma é que recuperam esse tempo de serviço? Era preciso recalcular todos os salários que deveriam ter recebido e pagar-lhes esses salários que estão em atraso”, exemplificou, para demonstrar a complexidade dos processos. “É um problema que vai gerar mal-estar, porque não vai ser possível dar a todos aquilo que todos acham que tem direito”.

Apesar dos dossiers que persistem ano após ano, legislatura após legislatura, João Dias da Silva encara o futuro da educação com otimismo: “Acho que vai ser possível superar estes problemas e que vamos poder ter uma profissão em que as pessoas se revejam e em que dê gosto trabalhar na escola”.

Das lutas que travou à frente da FNE (UGT), muitas em parceria com outras estruturas sindicais, nomeadamente a Federação Nacional dos Professores (Fenprof, CGTP-IN)) e o independente SIPE, assinalou como principais conquistas o fim da divisão dos professores em duas categorias (professor e titular), bem como da Prova de Avaliação de Conhecimentos e Capacidades (PACC), para professores que já estão na carreira, além da vinculação de milhares de docentes e não docentes.

Por concretizar, entre outras matérias em ciclica negociação com o Governo, ficou a criação de uma carreira específica para os trabalhadores não docentes, também reclamada por sindicatos da CGTP.

Related Images:

PUBLICIDADE

PUBLICIDADE