Desporto

João Almeida cresceu no “laboratório” da Bairrada que lança “talentos”

Notícias de Coimbra com Lusa | 11 meses atrás em 29-05-2023

João Almeida (UAE Emirates), um “excelente ciclista” que alcançou um inédito pódio para Portugal no Giro, passou em 2016 pelo clube de ciclismo da Bairrada, um ‘laboratório’ de talentos, a caminho do pelotão internacional.

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“Devemos estar todos contentes pelo lugar dele. Numa corrida destas, ganha-se por eliminação de atletas, e alguns foram sendo eliminados e foi subindo na classificação. Fez um grande Giro”, analisa, em entrevista à Lusa, o treinador Henrique Queiroz.

Queiroz tem trabalhado no clube de ciclismo da Bairrada com alguns dos nomes ‘lançados’ para a ribalta do ciclismo mundial, a começar por Almeida e passando por outros dois ciclistas da UAE Emirates, Ivo Oliveira e Rui Oliveira, mas também por nomes como Rodrigo Caixas, Diogo Narciso, Maria Martins, Beatriz Pereira ou o vice-campeão do mundo júnior António Morgado.

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O terceiro lugar conseguido por Almeida no domingo na Volta a Itália, um inédito pódio no Giro para Portugal e o quarto ‘top 3’ do país em grandes Voltas, era o tipo de patamar que “já se percebia” que o homem das Caldas da Rainha podia alcançar.

“O João deu-nos muitas alegrias na equipa e continua a dar agora. É humilde, é um excelente ciclista, e tenho de lhe agradecer, a ele e a todos os que vão passando pela equipa. A maior parte dos atletas portugueses lá fora passaram por aqui”, lembra o treinador.

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Para Queiroz, não há dúvidas: o ciclista de 24 anos “pode ganhar uma grande Volta”.

“Tudo depende do que a equipa queira. Está numa equipa que tem três ou quatro líderes. Se para o ano apostar na Volta a França, se calhar não vai ser líder mas o segundo homem. Depende do que pensarem para ele”, afirma.

Tendo “aspetos a melhorar”, como afirmar-se como líder e saber exigir “dois ou três ciclistas da sua confiança”, “o João ainda é novo” e vai a tempo de melhorar.

“Melhorou muito na alta montanha, no contrarrelógio está muito bem. Falta aquele clique. Há muitos portugueses que veem este terceiro lugar e acham que já não vale nada”, critica.

João Almeida só passou um ano na Bairrada e, depois, saltou para a Hagens Berman Axeon, outra equipa conhecida por ser uma ‘fábrica de talentos’, com ligação profícua a Portugal e à própria equipa da região Centro, uma vez que vários nomes fizeram o mesmo caminho.

“Nós somos uma equipa em que os atletas, portugueses e estrangeiros, vêm para cá para entrar nas grandes equipas mundiais. Já na altura o caminho dele era feito para fora, como agora é para o António Morgado”, lembra Henrique Queiroz.

O treinador nota a facilidade com que a equipa, que para 2023 testou “cerca de 50 ciclistas”, tem “encontrado valores e trabalhado” esses nomes, com nacionais e estrangeiros a submeterem-se a testes, com a parceria do professor universitário Amândio Santos, fisiologista do desporto da Universidade de Coimbra.

“É uma vantagem. Todos os dias falamos e temos a vantagem de testar muita gente. […] Também falo com muitas equipas estrangeiras, muita gente me ajuda. Este ano, colocámos o Daniel Lima na academia da Israel. Estão supercontentes com ele”, exemplifica.

Um desses exemplos recentes, António Morgado, era em 2022, ainda nas suas mãos, “o melhor júnior do mundo, e este ano é o melhor sub-23 do mundo”.

“Está a fazer coisas fora do normal. A meu ver, pode chegar mais longe do que o João, porque em termos de valores… mas depois há muitos fatores, não é só olharmos para os valores”, analisa.

Assim, não tem problemas em considerar Morgado “ciclista para uma equipa de topo mundial”, notando que em 2022 já podia “ter assinado diretamente pelas equipas que quisesse”, e que “sem nada de anormal, e se a evolução continuar, será dos melhores do mundo”.

Os testes, refere, não abrangem só os valores, numa faixa etária, entre os cadetes e os juniores, em que os corpos passam por “uma transformação muito grande, com alguns muito mais maturados do que outros”, mas também estágios de desenvolvimento – e potencial – totalmente diferentes.

“O atleta não são só os valores. Temos atletas com bons valores que vêm para cá pelo feitio ou outras questões. Também temos de estabilizar uma equipa. […] Com o Gonçalo Tavares [outro ciclista que saltou para a Axeon em 2023], que nunca tinha ganho uma corrida quando cá chegou, sabíamos que fazia à volta de cinco ‘watts’ por quilo, sabíamos que ia andar bem, como o Lima”, refere.

Com “mais recursos”, conseguiam trabalhar vários aspetos “de forma completamente diferente”, e não se podendo queixar em relação ao panorama nacional, olha para as equipas belgas, que “correm todas as semanas corridas UCI”, e vê uma desvantagem, dado que só fazem “três ou quatro num ano”.

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