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Isaac Newton previu o fim do mundo em 2060?

NOTÍCIAS DE COIMBRA | 4 horas atrás em 23-07-2025

Imagem: Universidade Hebraica de Jerusalém

Em 1704, Isaac Newton sentou-se com uma caneta e um papel e tentou calcular o fim do mundo. Contudo, não foi com um telescópio nem num laboratório que fez estas previsões, mas sim com a Bíblia, em especial com os números proféticos do Livro de Daniel.

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Mais de três séculos depois, alguns dos cálculos rabiscados por Newton — que estiveram escondidos entre os seus documentos pessoais — transformaram-se num mito viral: o pai da física moderna terá previsto o apocalipse para o ano 2060. Mas a verdade, tal como Newton, é muito mais complexa.

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Newton é conhecido mundialmente como o homem que descobriu a gravidade, inventou o cálculo e lançou as bases da física moderna. Poucos sabem, no entanto, que ele dedicou também grande parte da sua vida à alquimia, à interpretação bíblica e à teologia apocalíptica.

De facto, Newton deixou um legado de mais de cinco milhões de palavras sobre escritos religiosos — quase o dobro dos seus trabalhos científicos publicados. Para ele, compreender o universo e compreender Deus eram partes de uma mesma busca pela verdade.

Como cristão devoto, mas independente, Newton tinha uma leitura particular da Bíblia, especialmente dos livros proféticos de Daniel e do Apocalipse, que considerava um código simbólico contendo o roteiro da história humana e do futuro.

Num dos seus textos guardados na Biblioteca Nacional de Israel, Newton escreveu: “O tempo (tempos e meio tempo) é igual a 42 meses, ou 1260 dias, ou três anos e meio. Contando 12 meses por ano e 30 dias por mês, como no calendário primitivo, o período de 1260 dias, datado da conquista dos três reis em 800 d.C., termina em 2060 d.C.”

Newton interpretava esses “dias” como anos, uma abordagem comum na época. O ano 800 marca para ele a ascensão do Sacro Império Romano, símbolo do início de uma igreja que se desviou dos ensinamentos originais.

O período de 1260 anos representava o reinado da “Babilónia” — a igreja corrupta que distorceu o Evangelho. Assim, 2060 seria a data da queda dessa corrupção.

Porém, para Newton, isso não significava o fim do mundo em catástrofe, mas o início de uma transformação espiritual. O regresso de Cristo traria um “Reino eterno” de paz e verdade, onde o Evangelho seria finalmente pregado abertamente.

Newton nunca publicou estas ideias. Mantinha-as em cartas, notas e tratados pessoais, muitos escritos já na sua velhice, talvez para evitar conflitos com a Igreja Anglicana, cujas doutrinas rejeitava em alguns pontos, nomeadamente a Trindade.

Após a sua morte, estes documentos passaram para familiares que os mantiveram em segredo até 1936, quando foram leiloados para pagar dívidas. O estudioso Abraham Yahuda adquiriu-os e doou-os à Biblioteca Nacional de Israel, onde a carta que menciona 2060 reapareceu em 1969.

Newton não pretendia afirmar com certeza quando seria o fim do mundo. Na verdade, escreveu que queria “pôr fim às conjeturas precipitadas” que descredibilizavam as profecias sagradas.

O historiador Stephen D. Snobelen, especialista nos escritos religiosos de Newton, explica que ele via 2060 como uma data provisória para o retorno de Cristo e a instauração da paz, mas sempre com cautela.

Para Newton, ciência e religião não estavam separadas. Ele aplicava o mesmo rigor científico para decifrar tanto o movimento das estrelas como a mensagem bíblica. No século XVII, filosofia natural incluía alquimia, astronomia, teologia e matemática — tudo parte da mesma busca pelo conhecimento.

Newton nunca previu uma destruição física do planeta, mas sim uma renovação espiritual e moral, com o fim de instituições corruptas e o restabelecimento da verdade divina.

À medida que 2060 se aproxima, vale lembrar que Newton não reivindicou jamais conhecer a data do fim. Como escreveu, “Cristo vem como um ladrão na noite” e “não nos cabe saber os tempos e as estações que Deus colocou em seu próprio peito”.

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