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Investigadores defendem melhorias no socorro pré-hospitalar

Notícias de Coimbra com Lusa | 1 mês atrás em 20-03-2024

Imagem: Arquivo

Um grupo de investigadores concluiu que as vítimas de trauma que apresentam medo, ansiedade ou frio têm mais dor, razão pela qual decidiram lançar um alerta sobre a necessidade de criar mais eficácia das intervenções no socorro pré-hospitalar.

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Em declarações à agência Lusa, Mauro Mota, investigador da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto e do Centro de Investigação em Tecnologias e Serviços de Saúde (CINTESIS), considerou que “tentar tratar eficazmente a dor, ignorando as outras entidades responsáveis por desconforto, não é eficaz”.

“O socorro pré-hospitalar é uma intervenção que, entre o socorro no local e o transporte à urgência, demora cerca de uma hora. Pode parecer que o período pode ser negligenciado porque o objetivo é chegar à urgência rápido, mas achamos que não, que este período não pode ser negligenciado em termos de fontes de desconforto. São momentos de enorme sofrimento para as vítimas e cabe-nos trabalhar estes momentos”, disse.

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Mauro Mota assina com outros investigadores da FMUP e do CINTESIS, ambos do Porto, e de outras instituições do país, um estudo, publicado em novembro, que demonstra que cerca de 90% das vítimas observadas reportavam algum grau de dor decorrente dos ferimentos sofridos.

Desse valor, 47,1% reportavam dor severa, 39% queixavam-se de desconforto causado pelo frio, 49,8% demonstravam ansiedade e 15,7% apresentavam sinais de medo.

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Foram observadas, ao longo de 14 meses entre 2019 e 2020, 605 vítimas de trauma, na maioria homens, com idades entre os 18 e os 96 anos.

Foram excluídas vítimas que estavam sob a influência de álcool ou drogas ou que apresentavam alteração do estado de consciência.

Os acidentes de trânsito e as quedas foram as principais razões dos ferimentos: 40,7% e 37%, respetivamente.

De acordo com um resumo enviado à Lusa pela FMUP, a imobilização revelou ser “um determinante claramente associado a maiores níveis de dor entre as vítimas”.

Ao todo, 78,3% das vítimas tiveram de ser imobilizadas, uma intervenção visa reduzir os movimentos, proteger as estruturas anatómicas e minimizar o risco de novas lesões.

O objetivo do estudo foi avaliar a relação entre a intensidade da dor e o desconforto provocado por outros tipos de sofrimento, físico e psicológico, em doentes considerados críticos.

“Em certa medida, estes dados surpreendem, mas, mais do que isso, geram um alerta muito importante sobre a necessidade de aumentar a eficácia das intervenções no socorro pré-hospitalar”, resumiu Mauro Mota.

À Lusa, o enfermeiro com experiência em cuidados pré-hospitalares que está a desenvolver no pós-doutoramento na FMUP um estudo sobre a imobilização de vítimas e o desconforto, pretendendo criar uma escala própria para este efeito, considerou que “no futuro devem ser criadas intervenções específicas para cada uma das entidades causadoras de sofrimento”.

“Culturalmente, quando questionamos, em contexto clínico, um paciente sobre o seu conforto, tendemos a confundir conforto global com o nível de dor que a pessoa perceciona ter (…). Tendemos a achar que os níveis de dor elevados que são reportados prendem-se com o facto de estarmos a tratar apenas a dor, o que é insuficiente. Temos de tratar todos os focos do desconforto e aí vamos ter resultados mais eficazes no tratamento da dor. Estamos a tratar algo que não é apenas dor como se fosse apenas dor”, explicou.

Além de Mauro Mota, este estudo publicado na revista científica “International Emergency Nursing” em novembro do ano passado, tem como autores a investigadora Margarida Reis Santos, do CINTESIS/Escola Superior de Enfermagem do Porto, e outros investigadores de outras instituições do país, nomeadamente Filipe Melo (Centro Competências de Envelhecimento Ativo), Mariana Monteiro (Santa Casa da Misericórdia de Seia), Miguel Castelo-Branco (Universidade da Beira Interior), Carla Henriques, Ana Matos e Madalena Cunha (Instituto Politécnico de Viseu).

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