O chefe da investigação ao caso do ex-agente da PSP de Gondomar e 11 outros alegados narcotraficantes explicou hoje em tribunal os cuidados do grupo para não ser apanhado, incluindo o recurso a batedores durante o transporte da droga.
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“Não é uma atitude de principiante”, comentou o chefe da PSP, ao depor hoje perante um coletivo de juízes do Tribunal de São João Novo (Porto), num julgamento iniciado no Auditório Municipal de Vila Nova de Gaia, por causa da pandemia de covid-19.
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O investigador explicou que, na maior parte das vezes, o grupo liderado pelo ex-polícia Bernardino (‘Dino’) Mota trazia de Espanha, em automóvel, 120 quilos de haxixe de cada vez. E cerca de 20 quilómetros à frente desse veículo circulava um outro atento a eventuais aproximações policiais – os chamados “batedores”, que usam a técnica conhecida como “go first”, contou.
O grupo, que terá começado a operar em maio de 2018 e que foi desmantelado em julho de 2019, só abdicava de batedores quando usava um Seat Ibiza para transportar a droga, uma vez que este veículo tinha painéis laterais que tapavam esconderijos para a droga.
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Mas, neste caso, só era possível trazer 60 quilos de haxixe, metade do habitual, o que originava lamentos do condutor, que se declarava cansado de fazer demasiadas viagens longas.
O chefe da investigação revelou ainda outras cautelas usadas nomeadamente pelo ex-polícia ‘Dino’ Mota, como o cuidado de desligar e desmontar frequentemente o seu telemóvel.
Antes do testemunho do chefe da PSP, o tribunal ficou a saber que ‘Dino’ Mota e nove outros acusados deste processo iriam optar pelo silêncio. Falaram apenas os dois restantes arguidos, ambos dados pela acusação como tendo papéis secundários no tráfico e que negaram qualquer envolvimento no caso.
Na acusação e na pronúncia o polícia ‘Dino’ Mota é dado com um dos quatro mentores da rede de tráfico em causa que operaria sobretudo com haxixe.
Ainda segundo o processo, ‘Dino’ foi um de três arguidos detidos pela própria PSP na noite de 07 de julho de 2019, na área de serviço do Montijo, na A13, sentido sul–norte, quando regressavam de Espanha com cerca de 120 quilos de haxixe, com um valor aproximado de 150 mil euros.
A acusação do Ministério Publico (MP) conta que, desde maio de 2018, quatro dos arguidos, incluindo o agente policial, à data colocado na esquadra da PSP de Gondomar, “constituíram uma organização criminosa com vista a, de forma duradoura, se dedicarem à comercialização de produtos estupefacientes, designadamente haxixe”, para ser vendida na Área Metropolitana do Porto.
Nesse sentido, segundo o MP, o grupo contactou “indivíduos em Espanha” a quem compravam o haxixe por 750 euros o quilograma, para o vender em Portugal por 1.250 euros.
O transporte dos estupefacientes era efetuado por automóvel e, assim que chegavam à zona metropolitana do Porto, estes quatro arguidos encontravam-se e distribuíam o haxixe entre si, de “forma proporcional” ao investimento feito por cada um deles.
Para o MP, entre maio de 2018 e julho de 2019, mês em que foram detidos, os quatro principais arguidos realizaram, pelo menos, 27 viagens “em que lograram transportar, no regresso [de Espanha], elevadas quantidades de haxixe [de entre 30 a 60 quilogramas de cada vez, divididos por placas], que depois comercializavam e distribuíam por terceiros”.
Na sequência da investigação patrimonial realizada ao arguido Bernardino (‘Dino’) Mota, apurou-se a existência “de património incongruente com os seus rendimentos lícitos”, razão pela qual o MP pede que sejam devolvidos ao Estado quase 185.000 euros.
Em causa neste processo, no que reporta aos quatro principais acusados, crimes como tráfico de estupefacientes agravado e associação criminosa.
Seis outros arguidos, que se dedicavam à venda da droga, respondem por um crime de tráfico de estupefacientes.