Saúde
Investigação alerta para o combate ao HIV e que deve ter “diferentes políticas em diferentes lugares”

Um grupo de investigadores portugueses e brasileiros alertou para a necessidade de haver “diferentes políticas em diferentes lugares” no combate ao Vírus da Imunodeficiência Humana (VIH), tendo em conta a variação genética do vírus predominante.
Em declarações à Lusa, o investigador Nuno Osório, da Universidade do Minho, explicou que a investigação, feita em conjunto com investigadores da Universidade Federal de São Carlos, no Brasil, e publicada na Scientific Reports, aponta ainda “novas explicações” para as diferenças geográficas na distribuição dos subtipos [mutações genéticas] do VIH no mundo.
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O VIH afeta e enfraquece o sistema imunitário, responsável pela defesa do organismo de infeções e doenças, levando ao aparecimento do Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (SIDA).
“A prevalência de cada subtipo de VIH varia consoante a zona do globo, pelo que as políticas de prevenção do VIH-1/SIDA devem incorporar este conhecimento científico para serem mais eficazes”, disse Nuno Osório, salientando que o estudo incidiu sobre o subtipo B e o subtipo C.
“Estes são os subtipos mais relevantes em termos de infeção, mas a maioria da investigação científica é focada no subtipo B por ser o mais prevalente na Europa e América do Norte. No entanto, os resultados não serão sempre necessariamente aplicáveis ao subtipo C, o mais comum no mundo em desenvolvimento”, referiu.
Nuno Osório salientou que ambos os subtipos “são altamente capazes de se replicar, atingindo cargas virais elevadas nas pessoas infetadas sem tratamento, mas o subtipo B parece causar mais rapidamente deficiência imune do que o C”.
Segundo o investigador, o trabalho desenvolvido apontou que “estes dois subtipos têm diferenças importantes entre eles”.
O subtipo C, disse, “é mais frequente em mulheres e pessoas jovens, podendo estar mais adaptado a estes hospedeiros ou a vias de transmissão que envolvem homens e mulheres, ou mulheres e crianças”.
O investigador explicou que “locais com maior pobreza, desigualdades de género e menor qualidade nos cuidados médicos também podem favorecer” a transmissão daquele subtipo do vírus.
Tomando como exemplo o Brasil, Nuno Osório apontou algumas medidas “apropriadas e pensadas” para o sul daquele país na América Latina como exemplo da coordenação de políticas com o conhecimento científico.
“No sul do Brasil há uma prevalência do subtipo C. Há um passado histórico que pode ter influenciado esta prevalência, com a escravatura e hábitos como o recurso a amas de leite, um costume muito enraizado que apresenta riscos para a transmissão do VIH e que deve ser combatido”, referiu o investigador.
Se no sul do Brasil é o subtipo C que tem prevalência, no sudeste é o subtipo B que tem mais incidência: “São duas zonas fronteiras mas esta já foi mais marcada pela imigração vinda da Europa, onde prevalece o subtipo B”, adiantou.
Para os investigadores, as medidas políticas e sociais de combate ao VIH devem estar “aliadas ao conhecimento científico válido”.
“O caminho para um combate eficaz deve passar por medidas direcionadas para cada zona, tendo em conta a prevalência de cada subtipo”, alertou.
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