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Inspire-se na poesia amorosa de Safo traduzida por Eugénio de Andrade

Notícias de Coimbra | 3 anos atrás em 13-04-2021

“Poemas e Fragmentos de Safo”, a poetisa grega do século VII antes de Cristo, que o poeta Eugénio de Andrade (1923-2005) traduziu e publicou em 1974, regressa às livrarias na quinta-feira, depois de uma ausência de anos.

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O livro, originalmente publicado pela antiga editora Limiar, após a Revolução de Abril, no âmbito da Obra de Eugénio de Andrade, regressa agora na versão revista em 1977, em que o autor tem “em conta algumas observações [da filóloga e investigadora de Coimbra] Maria Helena Rocha Pereira”, como explica Eugénio de Andrade, na nota de abertura “Amada voz, rouxinol”.

As observações da investigadora sobre a “amada voz” de Safo levaram o poeta a não considerar, nessa edição, o poema apócrifo “Não vejo a lua nem as Plêidas, é meia-noite”, e a introduzir “algumas emendas”.

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Numa tradução, justifica Eugénio de Andrade, “a fidelidade à letra é um dos caminhos à infidelidade ao espírito”.

Sobre a poesia de Safo, nascida em Eresso, na ilha de Lesbos, e que terá estado exilada na Sicília, Eugénio de Andrade atesta “os versos incomparáveis onde a experiência íntima e devastadora da paixão, aliada a um sentimento muito vivo da natureza, é comunicada sem ênfase e sem patetismo, com uma naturalidade até então desconhecida, e que a poesia ocidental não terá voltado a conhecer”.

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“Os seus poemas de amor dirigiam-se frontalmente a mulheres”, o que terá levado séculos depois a sua poesia, reunida em nove livros, a ser destruída pelos cristãos dos séculos IV e XI.

Safo viveu grande parte da vida em Mitilene, capital da ilha de Lesbos, “rodeada de mulheres”, numa comunidade vedada a homens, “onde cultivava a poesia, o canto e a dança”.

Da sua poesia conhece-se, atualmente, uma ode completa e cerca de 200 fragmentos, a partir de citações de autores antigos e de papiros descobertos no Egito.

Esta situação, de uma obra muito truncada, leva a “interpretações por vezes as mais divergentes”, refere Eugénio Andrade, que não traduziu diretamente do grego, mas a partir de “outros olhos”, designadamente de Théodore Reinach (Les Belles Lettres, 1966), que passou grande parte da vida na pesquisa de fragmentos de Safo, Mario Meunier, Filippo Pontani e Salvatore Quasimodo.

A Assírio & Alvim, pela qual sai agora a poesia de Safo, é uma chancela da Porto Editora que iniciou em 2012 a publicação da obra completa de Eugénio de Andrade, que inclui “algumas antologias” preparadas pelo poeta, como na altura como na altura destacou o editor Manuel Alberto Valente, da Porto Editora, mantendo o paralelismo com as edições da Limiar e as concretizadas ainda pela Fundação Eugénio de Andrade.

Eugénio de Andrade é o pseudónimo literário de José Fontinhas, nascido na Póvoa de Atalaia, no Fundão, a 19 de janeiro de 1923.

Publicou o seu primeiro poema, “Narciso”, em 1939. Em 1942 publicou “Adolescente” e tornou-se conhecido em 1948 com “As Mãos e os Frutos”.

Em 1950, fixou residência no Porto, onde morreu, no dia 13 de junho de 2005.

Além do Prémio Camões, Eugénio de Andrade recebeu várias distinções, entre as quais o Prémio da Associação Internacional de Críticos Literários, em 1986, o Prémio D. Diniz/Casa de Mateus de 1988 e o Grande Prémio de Poesia da Associação Portuguesa de Escritores, em 1989.

Na mesma nota de abertura da obra, Eugénio de Andrade argumenta que a sua tradução é um ato de amor, sendo Safo uma das suas “fascinações mais antigas”.

Andrade esperava que “o perfume a violetas das tranças de Safo” não estivesse de todo ausente dos versos por si traduzidos.

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