Opinião

Inocêncio, um ‘Barão de Espalha Brasas’

Opinião | Amadeu Araújo | Amadeu Araújo | 2 meses atrás em 08-06-2024

Meu pai, nasceu e viveu em Monte Longo. Não foi contemporâneo do Inocêncio, que nos falou dessa terra de homens bons, de fortes varapaus e vigorosos paus de marmeleiro. Meu tio, que também era de lá – já o Monte era cidade e se chamava Fafe, ainda chegou a ter em casa uma dessas varas, para contrariar delitos de educação.

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Foi Inocêncio quem descreveu a cena da justiça de Fafe: “ocultos da polícia e dos meirinhos, no sítio da pendência, o fidalgote compareceu, assim como os padrinhos”.

Ora neste país temos demasiadas pendências, alguns comparecem, outros afugentam-se.

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Uma dessas pendengas, chegou esta semana e radica numa palavra. A carne. O pecado da carne. A polícia dos costumes apreendeu 1600 quilos de torresmos. Caramba, torresmos que fiquei sem saber se eram do redenho ou sainhas. Sei, porque sou especialista em torresmos, que os ditos levam pele de porco, gordura e toucinho. Carne, portanto.

Ora em Coimbra os torresmos tinham valor de 7400 euros, o que bota o quilo nos quatro euros e uns trocos.

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Veio uma Brigada Especializada e constatou que nos rótulos estava escrito carne. Os cientistas do agroalimentar definiram torresmos como resíduos e assim estamos. Uma coisa tão boa, tratada à bengalada.

Outros resíduos sobram da justiça, uns são carne e vão ao pelourinho, outros são borras e escapam.

Lá em Fafe não escaparia ninguém, mas no Reino, que tem Maquiavel, a coisa pia mais fina.

Outra testilha, o doutor telefona para a casa, o pai do doutor, que manda na intendência, nada faz, apenas reencaminhar e o resto sabemos nós.

Não há indícios, a casa civil e a assessora – não sei se da casa militar ou civil, foram os únicos intervenientes, quem manda não sabe de nada e assim estamos.

O Lacerda, dizem, alegadamente meteu uma cunha, vai sentar os butes ao tribunal e tem pelas costas um longo rol de pendências. Tráfico de influência, abuso de poder, burla e prevaricação. 

Para mim, o cavalheiro apenas viu a hierarquia e despachou o assunto.

Poupa-se o Maquiavel, a coisa entorna em vésperas de eleições, um hábito que já chegou à Madeira, e tábua rasa de torresmos, sombrios.

Razão tem Rui Rio, “o povo merece uma explicação, o Estado de Direto Democrático não pode continuar a funcionar nestes termos”.

Coincidências, a que nos faltam torresmos para apreciar a causa do sofá.

Se fosse em Fafe, resolvia-se a coisa de outra maneira. Inocêncio Carneiro de Sá, o conhecido “Barão de Espalha Brasas”, escreveu poema em que conta afronta de “cão tinhoso” e duelo, com escolha de armas para o ofendido. Que escolheu dois robustos varapaus. E sai fueirada. Escreve o poeta, deixou-lhe “o lombo num feixe”.

O povo aplaude, cansado do feixe que carrega no lombo, mas exige “justiça de Fafe”.

Não havendo, nem numa nem doutra, vou ali beber umas ‘mines’ e trincar umas pururucas.

OPINIÃO I AMADEU ARAÚJO – JORNALISTA

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