Portugal
Infância interrompida: o brutal assassinato de Maria dos Anjos

Imagem: Portugal antigamente
No verão de 1908, seis meses depois do regicídio que abalou o país, Lisboa foi novamente surpreendida por um crime que marcou profundamente a cidade: o assassinato de Maria dos Anjos, uma jovem varina de apenas 13 anos.
Maria, natural da Murtosa mas residente na Madragoa, seguia a sua rotina habitual. Como tantas outras raparigas da época, saía de madrugada para ir buscar peixe à Ribeira e vendê-lo pelas ruas de Lisboa. No dia do crime, percorreu longos quilómetros, provavelmente atravessando o apeadeiro do Areeiro e caminhando entre quintas e hortas da zona oriental da cidade.
O corpo foi encontrado horas depois, numa azinhaga, com sinais evidentes de violência. Um lenço de seda estava apertado ao pescoço e havia marcas de luta. Ao lado, encontrava-se a canastra com sardinhas e carapaus, bem como um pedaço de pão embrulhado em jornal — o lanche que levava para o regresso. A autópsia confirmou asfixia, agressões e indícios de uma tentativa de abuso sexual. A jovem terá resistido, mas não conseguiu escapar ao seu agressor.
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O crime gerou grande comoção, sobretudo entre a comunidade varina. O funeral foi acompanhado por uma multidão emocionada. Raparigas com a idade de Maria vestiram-se de branco, com véus, numa homenagem comovente. A imprensa da época deu destaque ao caso, publicando páginas inteiras com fotografias do cortejo fúnebre e relatos do sofrimento da família.
A polícia deteve uma mulher já conhecida das autoridades, mas o caso nunca foi verdadeiramente esclarecido. O sentimento de impunidade marcou o desfecho da investigação, deixando apenas a memória de uma infância interrompida de forma brutal.
Maria dos Anjos tornou-se um símbolo da vulnerabilidade das jovens trabalhadoras de Lisboa naquele início do século XX — uma criança forçada a viver num mundo de adultos, cuja história continua a ecoar mais de um século depois.
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