Opinião

Independentes

TORRES FARINHA | 11 anos atrás em 02-09-2013

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TORRES FARINHA

A nova realidade dos cidadãos independentes a concorrerem em pé de igualdade com os partidos poderá vir a assumir-se como uma charneira que marcará um novo paradigma político nacional.

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Nas próximas eleições autárquicas concorrem 80 grupos de cidadãos independentes, com as origens mais variadas, desde cidadãos que nunca tiveram qualquer filiação partidária até aos que saíram dos partidos devido a guerras internas.
Esta é uma nova realidade, que tem o potencial de rejuvenescer a democracia, mas que também encerra riscos que importa equacionar.

De facto, o exemplo que a maioria dos partidos nos tem dado relativamente à sua actuação leva a que cada vez mais eleitores se distanciem destas estruturas que, se subjacentemente subentendem o nobre valor do serviço à sociedade, a prática mostra, em muitas situações, uma atitude oposta.

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Constata-se que muitos políticos vivem para as suas máquinas partidárias e estas para aqueles, num ciclo de uma insaciedade permanente do poder pelo poder. É o alimentar as máquinas partidárias e todos os círculos de interesses em torno destes.

E quanto aos cidadãos independentes, será que estão nos antípodas desta posição dos partidos políticos?
Há cidadãos independentes que o são efectivamente, os que não se revêem na cultura dos partidos, os que saíram pelo seu pé dos partidos, os que saíram devido a guerras internas, entre outras posições.

Em última e em primeira instância, quer nos partidos quer nos independentes, estamos a falar de pessoas, onde a diversidade é total, pelo que se pode tornar mais difícil identificar o verdadeiro perfil de um cidadão independente do que de um candidato por um partido, onde parte da sua personalidade é absorvida por este.

Então, por um lado temos independentes que têm o potencial de poderem mandar uma “pedrada no charco”, agitando as águas da democracia e despertando a sociedade para uma nova realidade e, por outro lado temos os partidos com a sua reputação depauperada a perderem terreno a cada eleição que passa.

As próximas eleições autárquicas podem, de facto, marcar essa charneira para os independentes, atendendo a que, com excepção das grandes cidades, grande parte dos independentes são “filhos da terra” e, como tal, a sua personalidade é sobejamente conhecida por grande parte das populações, pelo que o risco de um travestismo político é reduzido. Em contraponto temos os partidos que irão colocar as suas máquinas eleitorais e os seus recursos financeiros no terreno para convencer tudo e todos da bondade dos seus argumentos políticos.

Naturalmente que muitos eleitores continuarão a deixar-se convencer pelos argumentos dos partidos, outros continuarão a votar convictamente nos partidos em que acreditam, mas muitos irão votar de forma motivada nos independentes que não trazem atrás de si os compadrios e as conivências dos partidos políticos.

Em inúmeras situações vai ser uma luta entre David e Golias mas, a nível nacional, os independentes eleitos assumirão um número record e constituir-se-ão como um novo paradigma nacional.

Depois das eleições autárquicas seguem-se as legislativas onde não é previsível que a actual realidade se altere, atendendo a que o peso das máquinas partidárias é esmagadora quando comparada com a dos independentes, mas certamente sairá muito fragilizada relativamente ao que é o actual equilíbrio político. Se não houver imponderáveis, a médio e longo prazo podemos assistir a um País governado predominantemente por independentes.

Mas será esta a solução? Entre os independentes haverá os humanistas, os ecologistas, os liberais, os conservadores, e tantas outras adjectivações quantas as inerentes à natureza humana. E é aqui que os riscos se maximizam, pois a nível nacional torna-se muito mais difícil conhecer o carácter dos candidatos e, em particular, se estes dispuserem de uma máquina de imagem e de imprensa que lhes esculpa um perfil que não corresponda ao seu verdadeiro carácter.

Acresce ainda o facto que, quase sempre inerente à natureza humana, se estes se perpetuarem no poder o risco dos compadrios e das conivências tão propaladas diariamente na comunicação social assume uma probabilidade crescente ao longo do tempo.

Por consequência, importa aprofundar a experiência do novo paradigma do independente, em particular do motivado, sério, que traga consigo um historial de trabalho e de exemplo de vida. Importa dar um “abanão” nos partidos para que estes expurguem as suas máquinas das variáveis de ruído que comportam. Importa ainda impor limitação de mandatos em toda a linha, de forma inequívoca, sem malabarismos de partículas semânticas legais, de forma a impedir, ou a minimizar, o risco dos compadrios e das disfunções de gestão política em que estamos inundados.

E, já agora, importa garantir que as entidades reguladoras efectivamente funcionem a todos os níveis de forma a caucionar um funcionamento realmente democrático da nossa vida política pois, tal como o povo diz, “depois de casa roubada trancas à porta”, e nós já não temos como comprar material para as trancas! Vale a pena reflectir nisto.

TORRES FARINHA

Investigador

 

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