O oncologista da Fundação Champalimaud Carlos Carvalho alertou hoje que a incidência do cancro do pâncreas cresce nos países industrializados, com um aumento entre adultos, referindo que os avanços na investigação já permitem curas em casos iniciais.
Em declarações à Lusa, o diretor da Unidade de Cancro Digestivo na Fundação Champalimaud explicou que o cancro do pâncreas tem aumentado cerca de 1% ao ano na população geral, mas entre adultos dos 40 aos 55 anos, o crescimento anual varia entre 4% e 7%.
“Parece um número baixo, mas é um número significativo. Pode vir a tornar-se, segundo algumas previsões, na segunda causa de morte por cancro nos países industrializados dentro de cerca de 10 anos”, disse, no âmbito da 2.ª Conferência Internacional sobre o Cancro do Pâncreas que se realiza na Fundação Champalimaud, em Lisboa, até sábado.
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Embora fatores como tabaco, álcool e diabetes sejam conhecidos, o médico destacou a obesidade como variável mais marcante.
“Aquilo que varia de todos estes fatores de uma forma mais clara é claramente a obesidade. Não podemos dizer qual é a razão, porque os estudos que permitem saber exatamente quais são os mecanismos para este aumento de risco são estudos difíceis, implicam muitos anos, mas (…) aquilo que mudou foi a obesidade. Se é o fator determinante ou não, não podemos ter a certeza, mas é preciso ter em atenção”, realçou.
De acordo com Carlos Carvalho, apesar da elevada mortalidade, os avanços na investigação e tratamento do cancro do pâncreas já permitem curas em casos iniciais, ressalvando que a Fundação Champalimaud tem reforçado esforços para combater um dos tumores mais resistentes e agressivos.
“O cancro do pâncreas é um dos tumores mais difíceis em vários aspetos. Muitas vezes, aparece diagnosticado já numa forma muito avançada já com metástases. Infelizmente, a cirurgia raramente é possível.
Mesmo nos casos iniciais, a evolução rápida e a resistência aos tratamentos convencionais tornam o prognóstico desafiante.
“Ainda não temos resultados como gostaríamos, mas por todo o mundo começam a surgir alguns medicamentos que são potencialmente muito úteis. (…) Os avanços existem e hoje já é possível que um doente que tem um diagnóstico de um tumor do pâncreas numa fase mais inicial e que consegue fazer quimioterapia e cirurgia. Já há uma expectativa de que um terço ou metade destes doentes, possa ficar curado”, sublinhou.
Carlos Carvalho vincou que o número de doentes tratados com maior eficácia “é cada vez maior”.
O oncologista reforçou a importância da evolução dos tratamentos contra o cancro do pâncreas, lembrando que modificar comportamentos associados a fatores de risco como obesidade, tabaco e álcool continua a ser um desafio.
“Essa mudança é desejável. É muito importante falar nela, mas é difícil, porque não depende só da vontade. Depende do investimento, da mudança de hábitos, que não é fácil de obter”, precisou.
O especialista lamentou ainda a inexistência de rastreios eficazes para o cancro do pâncreas, considerando que os métodos atuais não são rentáveis nem suficientemente precisos para rastrear a população.
Acreditando que mudanças importantes podem surgir nos próximos anos, Carlos Carvalho disse que a esperança reside na genética molecular.
“Essas mudanças têm a ver com a possibilidade de tentar encontrar no sangue fragmentos do DNA dos tumores, que permitam fazer um diagnóstico mais precoce, sobretudo nas populações, nos grupos da população, onde o risco é maior”, como familiares diretos ou portadores de alterações genéticas conhecidas, observou.
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