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Incêndio podia ter acabado com tudo, mas Lugrade prepara o maior salto da sua história

NOTÍCIAS DE COIMBRA | 4 horas atrás em 11-12-2025

A Lugrade, empresa familiar com quase 40 anos de história no comércio de bacalhau, está a investir cerca de 25 milhões de euros na reconstrução e especialização das suas unidades, após um incêndio ter destruído a sua principal fábrica há dois anos.

Em entrevista, Vítor Lucas, da segunda geração da família à frente do negócio, partilhou a história da empresa, marcada por um crescimento contínuo e pela superação de um dos momentos mais difíceis.

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O ano de 2023 foi de provação para a Logrado, quando um incêndio consumiu a maior fábrica da empresa. Vítor Lucas descreve o momento: “Foi um momento muito difícil, porque a nossa maior fábrica ardeu, de um momento para o outro, e com isso muitos pensamentos nos vieram à ideia, o que fazer…”, explica.

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Apesar do golpe, a decisão de não parar foi unânime. “Todos juntos conversámos e tínhamos a certeza que não iríamos parar” afirmou. A fábrica existente conseguiu manter a operação, e a empresa não dispensou qualquer funcionário. “Na altura não despedimos ninguém, mantivemos toda a equipa” garante.

A empresa, que já possui distinções como PME Excelência e Mérito Empresarial do Município de Coimbra, foi fundada pelos pais de Vítor Lucas, sendo o nome “Lugrade” a junção dos apelidos de família.

O futuro passa por um forte investimento na reconstrução da unidade que ardeu. As obras já começaram e a previsão é que a nova fábrica esteja operacional no final de 2026, sendo encarada como uma “prenda de Natal”.

Com esta nova unidade e as duas existentes (incluindo a de recurso na Ribeira de Fratos), a Lugrade vai especializar as operações: Fábrica existente (Coimbra): manterá a tarefa de secagem de bacalhau. A nova fábrica (Torre de Vilela) ficará responsável pela demolha, congelação, escala e salga, processos que atualmente são realizados por prestação de serviços de outras empresas. Já na unidade de Ribeira de Frades, vai dedicar-se ao corte e à produção dos pré-embalados (postas, lombos em covete).

Com estas três unidades, a empresa espera voltar a ter cerca de 150 a 160 trabalhadores no total. Para este ano, a faturação prevista é de cerca de 47 milhões de euros.

A Lugrade mantém um foco rigoroso na qualidade, um fator crucial num mercado onde Portugal não tem bacalhau próprio e depende da importação. “Nós tentamos manter uma marca e para se manter uma marca tem que se manter a qualidade,” sublinha.

A matéria-prima é importada dos principais fornecedores: Islândia, Noruega, Canadá, Ilhas Faroé e Gronelândia. O gestor enfatiza a importância da seleção: “Tentamos escolher os melhores porque nós também queremos ser os melhores. E só conseguimos ter o melhor produto se conseguirmos ter parceiros que nos forneçam boa qualidade.”

Vítor Lucas alertou ainda para as incertezas nas quotas de pesca de bacalhau no Mar de Barents (Noruega e Rússia), que podem ter implicações no preço para o consumidor, mas defende a visão de longo prazo: “Se a cota baixasse, tal como os cientistas preveem que ela baixe na Noruega, nós estamos a pensar no futuro.”

Questionado sobre a concorrência de países como Inglaterra, Polónia e China, Lucas explicou que a maioria consome bacalhau fresco ou ultracongelado (como o fish and chips britânico). A tradição do bacalhau salgado e curado é tipicamente portuguesa.

“Isto tem a ver com a história e tem a ver com as necessidades que nós tínhamos para manter o peixe nos barcos durante vários meses,” esclareceu, acrescentando que esta técnica, nascida da necessidade de conservação, resulta num produto “completamente diferente de um bacalhau fresco. Não tem qualquer comparação.”

A Lugrade também se destaca por ser, alegadamente, a única empresa a salgar e secar raia, um produto endógeno com forte tradição na Figueira da Foz.

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