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Incêndio de Arganil ameaça superar o recorde da Lousã em 2017

Notícias de Coimbra com Lusa | 2 horas atrás em 22-08-2025

O incêndio que começou no Piódão, Arganil, no dia 13 e que continua ativo, será “muito provavelmente” o maior de sempre em Portugal, afirmou o especialista Paulo Fernandes, estimando uma área ardida de cerca de 60 mil hectares.

O incêndio que começou no distrito de Coimbra e que se estendeu aos distritos de Castelo Branco e Guarda já terá consumido cerca de 60 mil hectares, afirmou à agência Lusa o especialista em incêndios e membro das comissões técnicas de análise aos grandes incêndios de 2017.

O investigador da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD) recordou que o maior incêndio desde que há registos em Portugal é o fogo que começou em Vilarinho, no concelho da Lousã, em outubro de 2017, que afetou 53 mil hectares, seguindo-se o de Arganil, também nesse ano, com cerca de 38 mil hectares (excluindo os fogos deste ano).

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A estimativa do investigador da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD) é feita com base em informação de monitorização de incêndios por deteção remota.

A área calculada por Paulo Fernandes é superior aos dados provisórios do Sistema de Gestão de Informação de Incêndios Florestais (SGIF), que apontam para uma área ardida de 47 mil hectares (até terça-feira) e do Sistema Europeu de Informação sobre Incêndios Florestais (EFFIS), que regista 57.596 hectares, com a última atualização feita hoje.

“Muito provavelmente será o maior incêndio de sempre”, vincou o investigador, referindo que há incêndios “que nascem para serem grandes”, considerando que o de Arganil, iniciado há uma semana, “é um desses casos”.

De acordo com o investigador, o incêndio começou de madrugada, a partir de dois raios, numa cumeada, o que levou a uma resposta mais lenta e sem possibilidade de recurso a meios aéreos no ataque inicial, “num sítio relativamente inacessível”.

Num ambiente de trovoada que gera ventos, o incêndio “propagou-se muito rapidamente” nas primeiras horas, notou, considerando que essa é “a receita para que se torne num incêndio maior nas horas ou mesmo dias seguintes”.

Tudo isto, constatou, aconteceu num “território muito complexo”, não apenas pela acessibilidade, mas pelo efeito que a topografia “tem na evolução do fogo”, numa região que arde sucessivamente, registando grandes incêndios em 1987, 2005 e 2017.

“Sabemos que a ocorrência de grandes incêndios fomenta maiores incêndios no futuro, porque torna a paisagem cada vez mais homogénea e, quando a vegetação recupera, cresce simultaneamente e teremos ali um contínuo de vegetação cada vez mais homogéneo – e se há coisa que o fogo gosta é dessa homogeneidade -”, explicou.

Segundo Paulo Fernandes, o fogo que começou em Arganil é um incêndio convectivo, “muito dominado pela energia” e onde não há grande influência do vento.

Após a trovoada, este incêndio alastrou “para todos os lados lentamente”, apontando para a própria forma arredonda que assumiu na sua progressão.

“Estes incêndios ocorrem quando temos muita vegetação, com uma atmosfera relativamente instável, em que não é realmente necessário vento e o incêndio não tem aquelas arrancadas muito rápidas e súbitas. Antes, cresce consistentemente ao longo do tempo, com muita biomassa seca e, por isso, muito difícil de combater”, explicou.

Segundo Paulo Fernandes, desde 2017 o que se fez foi apenas planos.

“É sempre aquilo que é mais fácil de fazer. Basicamente, tivemos processos de planeamento [de alteração da paisagem], mas não de implementação no terreno”, notou.

Para o especialista, as poucas ações que se viram com alguma escala depois de 2017 “foram da indústria do papel, com iniciativas para melhor gestão florestal” e um avanço do Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF) nas faixas de gestão de combustível.

Além do pouco trabalho de prevenção, Paulo Fernandes nota um combate “muito urbano” e em que se aproveita “bastante pouco” as oportunidades que eventualmente poderiam ser oferecidas pelas faixas de gestão de combustível criadas.

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