Coimbra

Hospitais de Coimbra tiveram de “reinventar” os limites do SNS

Notícias de Coimbra | 3 anos atrás em 28-02-2021

O Hospital Geral (Covões), em Coimbra, não foi suficiente para acolher todos os doentes da covid-19 nesta terceira vaga, obrigando o Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra (CHUC) a abrir enfermarias noutros polos.

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“Durante esta pandemia, foram dadas provas consistentes de que o Serviço Nacional de Saúde (SNS) foi levado aos seus limites, que tiveram de ser reinventados, e essa capacidade de resiliência só foi possível graças à dedicação dos profissionais, que foram e continuam a ser a chave da qualidade da resposta”, frisou à agência Lusa o presidente do conselho de administração do CHUC, Carlos Santos.

Um ano depois do registo dos primeiros casos em Portugal, em 02 de março de 2020, este centro hospitalar foi a unidade de saúde em Portugal que mais camas alocou para doentes covid-19, chegando a ter quase 500 doentes internados ao mesmo tempo, de acordo com o diretor clínico, Nuno Deveza.

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Inicialmente, o CHUC apenas destinou o Hospital dos Covões para doentes do novo coronavírus, o que foi suficiente na primeira e na segunda vaga, mas, na terceira, em janeiro e início de fevereiro, foi necessário abrir novas enfermarias no polo Hospitais da Universidade de Coimbra (HUC).

O diretor clínico salienta que “a terceira vaga trouxe uma pressão enorme, obrigando a criar no polo HUC uma área destinada a doença respiratória nos contentores”, referindo que o Hospital dos Covões esteve muito próximo de esgotar a sua capacidade.

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“Não esgotou porque tivemos necessidade dia-a-dia ou até no mesmo dia de ir abrindo enfermarias. No total, tivemos abertas 15 enfermarias para doentes estáveis, duas para cuidados intermédios (uma no polo Covões e outra nos HUC) e quatro unidades de cuidados intensivos, no total de 42 camas (15 das quais nos HUC)”, enumerou.

O médico Nuno Deveza destaca a solidariedade dos profissionais e o seu “sentido de missão” no combate à pandemia, salientando que se tratou de uma experiência única, porque isto era gerido muito em cima, quase à hora, e durante o dia tinha de se mudar o percurso do plano”.

Na última semana de fevereiro, o CHUC registou um “grande alívio”, segundo o responsável, com as idas às urgências e internamentos a “descerem significativamente”, o que levou a administração a iniciar o desmantelamento progressivo das enfermarias e a fazê-las retornar à sua missão original.

“Já estamos a começar a ter condições para retomar, devagar, as cirurgias e as consultas programadas a partir do início de março”, adiantou o diretor clínico, referindo que também a Unidade de Cirurgia de Ambulatório, instalada nos Covões, que esteve transformada em Unidade de Cuidados Intensivos, foi libertada na última semana e está a preparar a retoma para o início de março.

A enfermeira Ana Figueiredo, especialista de reabilitação e que deu apoio à coordenação dos serviços na fase covid-19, revelou que houve dias “muito difíceis”, em que era necessário esperar pelas vagas que iam ficando disponíveis para internar os doentes que estavam à espera.

“Nesta adrenalina dos dias, a saúde mental fica adiada, mas deixa marcas para o futuro. A carga dos cuidados foi grande, a missão não acabou e não há muito tempo para pensar nisso e nas consequências”, disse, à agência Lusa.

Destacando a resiliência dos profissionais, bem como a sua “capacidade de entrega e espírito de missão”, Ana Figueiredo considera que a palavra “superação” é a que melhor define o desafio por que passaram na pandemia.

Obrigados a distanciamento e afastamento dos doentes, “o contrário do papel dos enfermeiros, teve-se de aprender a cuidar através dos olhos”, enfatiza a enfermeira, que esteve na linha da frente.

Apesar da grande pressão que o CHUC sofreu, sobretudo nos períodos mais críticos, o presidente do conselho de administração salientou à agência Lusa que a unidade hospitalar nunca suspendeu a atividade cirúrgica, embora se tenha registado uma redução forte.

“O CHUC nunca deixou de responder à atividade cirúrgica urgente, prioritária e muito prioritária, e manteve também respostas de cirurgia programada em cirurgia de ambulatório, recorrendo até a meios que nunca tinham sido utilizados até hoje”, sublinhou.

O Hospital Pediátrico tem estado desde janeiro a operar em cirurgia de ambulatório adultos das especialidades de urologia e cirurgia, que nunca se tinha feito, “para não deixar avolumar ainda mais a lista de espera das intervenções de ambulatório”.

“O bloco operatório do Serviço de Medicina de Reprodução nunca tinha sido utilizado para cirurgia de ambulatório e a ginecologia esteve a utilizá-lo nos meses de janeiro e fevereiro. Portanto, o CHUC sempre utilizou recursos e recorreu a todos os meios ao seu alcance para poder continuar a responder às suas necessidades”, sustentou.

Segundo Carlos Santos, a cirurgia oncológica “está em dia”, frisando que, tanto como é possível num contexto de pandemia, o CHUC realizou mais cirurgias nos primeiros dois meses deste ano do que em igual período de 2020.

Em Portugal, registaram-se mais de 16 mil mortes entre mais de 800 mil infetados com o novo coronavírus.

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