Opinião

Gregos e Troi(k)anos

MANUEL MILAGRE | 11 anos atrás em 12-07-2013

ManuelMilagre novo

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MANUEL MILAGRE

Na passada quarta-feira o país foi estranhamente surpreendido pelas declarações de Cavaco que, contrariando todas as previsões de todos os politólogos, fez aquilo que parecia ser impossível, atendendo ao seu carácter e historial – o imprevisível! É sabido que o PR é um líder populista, que procura sempre, o melhor que pode, agradar a Gregos e Troi(k)anos.

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Ainda assim, na impossibilidade de agradar todos os Gregos, Cavaco optou por agradar somente os Troi(k)anos, deixando os primeiros entregues, sem exceção, ao triste fado que assombra os seus destinos.

Vejamos:

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  1. Eleições a partir de junho de 2014Timing perfeito! Ou seja, após o reinado dos Troi(k)anos. Cavaco sabia que o cenário de eleições não era consensual nem nos 3 partidos que subscreveram o MoU, nem na sociedade em geral ou tão pouco nos mercados e na Europa. Ao contrário de Jerónimo de Sousa que, com o seu ar sempre sério, solidário e fraterno, acredita piamente que não haveria “problema nenhum” em aprovar um orçamento de estado em março ou fevereiro do próximo ano, entendo que as consequências que seriam imputadas ao país por ir para eleições em setembro seriam, indubitavelmente, nefastas. Arrisco-me mesmo a dizer: mais nefastas que o protelar deste Governo por mais um ano… No entanto, Cavaco sabe que é há demasiado tempo e por demasiadas vezes o garante da estabilidade deste Governo, pelo que, em nome do seu bom nome, algo que fosse além de umas palmadinhas nas costas de Passos e Portas teria de ser feito. Do ponto de vista estratégico, esta medida é soberba.

NB1 – De facto, o sistema financeiro internacional está desenhado de tal forma que existe um preço a pagar pela instabilidade política que tanto incomoda os investidores – os juros da dívida sobem e eventualmente atingem um nível incomportável para a economia. Este fenómeno abre portas para um verdadeiro embuste paradoxal que toda a gente, no mundo, parece aceitar: quem nos empresta dinheiro ganha mais e, no fim de contas, quem supostamente beneficia dele, acaba por ficar com menos. Traduzido por miúdos, poder-se-á dizer da seguinte forma: quem é rico, fica mais rico e quem é pobre, fica mais pobre. A somar ao facto de o país ficar sem uma estratégia por um largo período de tempo crítico, esta constitui-se como uma inevitável evidência da perda de soberania dos povos, uma vez que o funcionamento da sua democracia se encontra restringido por imposição dos mercados – leia-se, devido à instabilidade política.

NB2 – Curioso é que o país, em maio de 2011, quando o potencial de reversibilidade da crise económica e financeira do país era muito maior, consubstanciado por melhores (ou menos maus) indicadores económicos e sociais, estava preparado para aguentar uma crise política que possibilitasse o aparecimento de um governo maioritário de direita. Agora… Agora é outra história! Mas não nos desviemos daquilo que é essencial.

  1. Governo não cai – Uma vez mais, uma decisão que sossega os Troi(k)anos, consequentemente, os mercados, a Europa e, por ventura, o Partido Socialista a quem claramente não interessa, para já, governar. Por outro lado, PSD e CDS veem, aqui, o impacto desta crise política minimizado no quadro das eleições autárquicas, ainda que esse mínimo seja um preço demasiado alto, na opinião pública, para livrar a direita de uma derrota histórica a nível nacional. No entanto, prevê-se que no próximo ano, a AR se transforme numa verdadeira arena, onde o governo que efetivamente teme por falta de apoio dos próprios partidos que sustentam a sua maioria e possivelmente de mãos atadas por um acordo que foi forçado a assinar, irá ser diariamente massacrado, sodomizado, ultrajado a sangue frio e sem dó, nem piedade.

Mas se Cavaco ficasse por aqui, este Governo não seria, conforme pretendido, um Governo de gestão. Seria algo muito mais perigoso – um Governo sem nada a perder! Foi por isso que Cavaco e a sua brilhante equipa criaram o número 3…

  1. Acordo de regime a 3 – Fundamentalmente em torno de questões relacionadas com o memorando da troika, este acordo pretende ser uma espécie de garante de estabilidade política, até à data que Cavaco entender ser mais apropriada (ou mais conveniente) para devolver a palavra aos portugueses. Uma espécie de extensão nacional da troika… E é justamente aqui que o PR pretende entalar Seguro: se aceita o acordo, estará automaticamente a passar um atestado de concordância a todas as políticas do governo, no próximo ano, que, como se sabe, terão de estar alinhadas com o penoso cumprimento dos compromissos internacionais. Desviará, certamente, as atenções do Bloco e PCP do Governo que passarão a apontar as suas armas para tudo o que “mexer” à sua direita. Caso não aceite, terá por um lado fortes aplausos à esquerda mas, por outro, terá de enfrentar a fúria do PR e do arco da governação que encarregar-se-ão de fazer dele mais do que o bastião da instabilidade e da crise política, um homem que quer tão só servir os seus interesses e ir para o poder e o PS a verdadeira razão de todos os males nestes país…

Face ao exposto, parece-me de elementar bom senso que António José Seguro tenha, inevitavelmente, de encontrar uma solução fora deste binómio. Algo do género “Aceitamos mas…” ou “Não aceitamos mas, em nome do país, deixamos que…”. Este é provavelmente o maior desafio que Seguro já enfrentou, à data. Será uma prova de fogo para ele e para a sua equipa que terá, necessariamente, de ter uma posição cuja qualidade, do ponto de vista estratégico, jogue na mesma liga que esta finta de Cavaco.

Esta tomada de posição de Cavaco, arrisca-se a ser um verdadeiro tsunami pronto a varrer lideranças nos 3 partidos que subscreveram o MoU. Uma espécie de “Quem não marca, sofre”, a avaliar pelo burburinho interno que, de forma crescente, se vem agudizando no seio dos 3 partidos (*). Assim sendo, mais do que Portas e Passos cujos destinos já se encontram em processo de beatificação, Seguro terá de demonstrar que está à altura deste desafio, sem margem para erros, sob pena de o PS lhe renegar a possibilidade de vir a governar o país e encontrar um substituto.

Estou certo que as qualidades de AJS e o apoio da sua equipa irão superar esta prova de fogo e encontrar uma saída, à altura, para este labirinto arquitetado por Cavaco e, assim, mostrar aos portugueses que o PS estará pronto um dia, não daqui a muitos dias, para governar novamente os destinos deste nosso Portugal.

(*) ver: http://www.ionline.pt/artigos/portugal/metade-dos-inquiridos-preferia-antonio-costa-liderar-ps

MANUEL MILAGRE

Engenheiro Civil

Presidente da CPC da Juventude Socialista de Coimbra

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