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Geógrafa de Coimbra diz que interior vem cada vez mais até ao litoral  

Notícias de Coimbra | 3 anos atrás em 28-07-2021

A especialista em geografia humana Fernanda Cravidão disse hoje que os dados preliminares dos Censos 2021 mostram que “o interior vem cada vez mais até ao litoral” e considerou que só a imigração não resolverá o problema do despovoamento.

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A população portuguesa diminuiu 2% nos últimos dez anos, um saldo negativo que não se verificava desde os censos de 1970, que revelaram então uma diminuição dos residentes no país na década iniciada em 1960, divulgou hoje o Instituto Nacional de Estatística (INE).

Este é um dado que não surpreende quem “lida com alguma frequência com a demografia”, disse à Lusa Fernanda Cravidão, geógrafa e professora catedrática jubilada da Universidade de Coimbra, que destacou que nos últimos dez anos também as duas regiões autónomas perderam população e que, no caso da Madeira, a diminuição foi em todos os concelhos, sem qualquer exceção.

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Por outro lado, afirmou, o mapa da população residente em Portugal hoje divulgado pelo INE com base nos Censos 2021 “mostra que o interior vem cada vez mais até ao litoral”.

Apesar de haver “um predomínio” de saldos demográficos positivos nos concelhos do litoral, “essa variação”, em grande parte, é hoje “mais ténue” do que nos censos anteriores, de 2011, explicou.

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As exceções, como Odemira, o concelho do país que mais aumentou a população nestes dez anos (+13,3%), não resultaram de crescimentos homogéneos no município, mas de fenómenos localizados que são percetíveis na análise dos dados por freguesias, afirmou a especialista.

No caso de Odemira, o crescimento do concelho parece resultar do aumento de residentes nas freguesias de Longueira/Almograve (+72,4%) e de São Teotónio (+35%), onde se localizam explorações agrícolas que empregam imigrantes.

A “questão estrutural” da “pobreza numa parte significativa do território” é a primeira razão que Fernanda Cravidão apontou para a diminuição da população e a sua distribuição pelo país.

“É uma questão estrutural há muitos anos, se não, não se emigrava desde sempre”, afirmou a especialista, para quem esta pobreza do país também limita a capacidade de atrair imigrantes que compensem o saldo demográfico, o que foi, por outro lado, agravado pela pandemia da covid-19 no último ano e meio, período em que “ninguém emigrou para lado algum”.

A geógrafa acrescentou razões mais conjunturais “e próximas”, como a “forte emigração de gente nova” aquando da crise de 2013 e 2014, coincidindo com o resgate financeiro, um conjunto de pessoas que em “grande parte não regressou”, o que tem também consequências na taxa de fecundidade.

Além de haver poucos nascimentos, não há renovação de gerações, numa “geografia dos ausentes” somada a uma “geografia do envelhecimento” que os dados definitivos dos Censos 2021 irão, muito provavelmente, confirmar, disse Fernanda Cravidão.

A especialista sublinhou que este processo de “despovoamento” e “envelhecimento”, de “desaparecimento de pequenos lugares”, não é exclusivo de Portugal e está a acontecer também em países como Espanha.

“Agora, é evidente que nos países e nas regiões onde as economias são mais frágeis” esta “é uma situação que teoricamente se torna mais difícil de resolver”, considerou.

Para Fernanda Cravidão, “a ausência de um modelo de desenvolvimento concorreu muito” para este resultado e “a agenda política tem de olhar para isto de outro modo”.

“Não bastam as políticas de natalidade” e “mesmo depois de ultrapassada a questão sanitária” da covid-19, “só a imigração não irá resolver esta questão”, disse.

Fernanda Cravidão deu como exemplo “a progressiva desmontagem do caminho de ferro”, que antes atravessava o país, considerando que foi um dos motivos para a evolução demográfica, e disse esperar que esteja efetivamente em curso um processo de revitalização e modernização da ferrovia.

Por outro lado, referiu que há freguesias de cidades do interior, como Bragança, em que a população aumentou nos últimos dez anos, como também aconteceu no município de Braga, crescimentos que parecem estar associados a locais onde existem polos de ensino superior, tanto politécnico como universitário.

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