Mauro Oliveira, genro de um ex-vereador socialista, é o candidato da coligação “Juntos Somos Coimbra” à União de Freguesias de Souselas e Botão.
O topógrafo, 43 anos de idade, é descrito pela coligação, em cujo seio avulta o PSD, como possuidor de “uma vida inteira ligada à freguesia”, apesar de ter trabalhado durante 14 anos em “projectos de engenharia em Angola”.
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De 2021 a 2023, o topógrafo foi técnico no Balcão Único do Prédio (BUPi) em Coimbra e, segundo a coligação, “ajudava directamente quem mais precisava – com terreno, com informação, com tempo”.
Mauro Oliveira é genro de Victor Carvalho Santos, antigo autarca (PS) e ex-presidente da empresa municipal Águas de Coimbra (AC).
A meio ano das eleições autárquicas de 2021, o então líder da AC foi associado, pela revista Sábado, a “suspeita de nepotismo”.
O outrora presidente da sobredita empresa municipal, admitindo que pudesse vir a existir uma relação de parentesco entre ele e uma prestadora de serviços à AC, absteve-se em 2019 de intervir na renovação da avença que ele caucionara em 2016.
Em nota da AC, citada pelos diários de Coimbra, uma porta-voz da sociedade municipal disse, então, que, “à data de hoje, não existe ainda qualquer relação familiar, legalmente tipificada”, entre a pessoa contratada e Victor Carvalho Santos.
A empresa reconheceu que em Outubro de 2016 estabeleceu um contrato de prestação de serviços com a solicitadora Rute Isabel, que veio a tornar-se nora de Carvalho Santos por via de uma união de facto com um filho do ex-bancário.
“Não existia, à data”, segundo a referida porta-voz, “qualquer relação de afinidade ou parentesco entre a pessoa contratada e o presidente do Conselho de Administração” da AC.
O episódio agitou o meio político conimbricense desde que, em Abril de 2021, Notícias de Coimbra divulgou a contratação.
Madalena Abreu e Paulo Leitão, outrora vereadores da Câmara Municipal de Coimbra eleitos pelo PSD, entendiam que a autarquia, accionista (única) da AC, devia “retirar (…) a confiança política a Victor Carvalho Santos e levar o caso às instâncias judiciais devidas”.
Mediante ajuste direto, a Águas de Coimbra outorgou, há anos, com Rute Isabel uma avença que no primeiro triénio rendeu à solicitadora perto de 60 mil euros.
A 03 de Outubro de 2016, a empresa municipal era administrada por dois gestores, um deles, Carvalho Santos, investido em funções executivas apesar de, então, não ser, formalmente, presidente da sociedade.
O primeiro contrato entre a Águas de Coimbra e a solicitadora, datado de Outubro de 2016, foi tornado público em Maio de 2018.
Quanto ao segundo contrato, a divulgação conhecida é omissa quanto aos nomes dos gestores que representavam a empresa municipal.
De acordo com Madalena Abreu e Paulo Leitão (líder distrital do PSD/Coimbra, hoje em dia), a segunda adjudicação para “aquisição de serviços de solicitadoria” foi subscrita por Miguel Correia e Carvalho Santos.
Segundo a porta-voz da AC, o outrora presidente “não participou no acto de autorização do procedimento e da despesa”.
“O âmbito do contrato – serviços de solicitadoria jurídica, no âmbito da preparação dos processos de execução de empreitadas, relativos à aquisição e legalização de terrenos e de celebração de contratos de servidão administrativa, envolvendo todos os actos e operações jurídicos e burocráticos necessários – veio dar resposta a uma necessidade de serviço relevante, e há muito identificada, para a qual a pessoa contratada possuía a formação e experiência profissional adequadas”, alegou a AC.
A empresa acrescentou que “o profissionalismo e eficiência” com que a pessoa contratada cumpriu as suas funções e a necessidade de a Águas de Coimbra manter este serviço para apoio à execução das empreitadas que estavam em curso ditaram a renovação da avença sem qualquer acréscimo do montante (1.600 euros por mês, mais IVA).
Ao alegarem que prosseguia “a grande festa da família socialista”, os anteriores vereadores social-democratas da CMC assinalam “ser público” que a segunda contraente mantinha uma união de facto, há vários anos”, com o filho do então presidente da empresa pertencente à autarquia.
João Paulino, tenente-coronel, é o candidato do PS à liderança da Junta da UF de Souselas e Botão, cuja presidência cabe desde 2013 ao independente Rui Soares (cuja candidatura veio a ser apoiada pelo movimento “Somos Coimbra”).
Devido à limitação do número de mandatos consecutivos, Rui Soares está impedido de voltar a perfilar-se para o cargo e a escolha do seu potencial sucessor com o patrocínio de “Juntos Somos Coimbra” não recaiu no presidente cessante da Assembleia da UF, Carlos Traguedo.
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