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Fungo mortal “que nos come por dentro” espalha-se com o calor e ameaça milhões na Europa

O fungo Aspergillus, já presente em várias regiões do planeta, está agora a propagar-se com maior rapidez, impulsionado pelas altas temperaturas resultantes das alterações climáticas.
A ameaça, silenciosa mas crescente, pode colocar milhões de pessoas em risco de infeções graves, alertam investigadores da Universidade de Manchester.
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Todos os dias, o organismo humano inala centenas de esporos invisíveis de fungos como o Aspergillus. Na maioria das vezes, não causam danos. No entanto, em pessoas com o sistema imunitário fragilizado, e com um planeta cada vez mais quente, a situação pode agravar-se dramaticamente.
O Aspergillus vive no solo, em grãos e até em esqueletos de coral, desempenhando um papel importante na reciclagem de nutrientes. Mas fora do seu ambiente natural — em explorações agrícolas e hospitais —, este fungo pode causar infeções pulmonares graves, como a aspergilose invasiva, que podem ser fatais.
Um estudo recente, publicado na Research Square, modelou a expansão de três espécies — A. flavus, A. fumigatus e A. niger — até ao final do século. O cenário mais pessimista (SSP585), baseado na continuação do uso intensivo de combustíveis fósseis, mostra que o A. fumigatus poderá expandir-se em 77,5% da Europa, colocando mais de nove milhões de pessoas em risco. Já o A. flavus poderá crescer cerca de 16% na região, afetando potencialmente um milhão de pessoas.
O problema agrava-se com o uso massivo de fungicidas na agricultura, que são quimicamente semelhantes aos medicamentos usados para tratar infeções humanas. Essa pressão evolutiva empurra o Aspergillus a desenvolver resistência, à semelhança do que acontece com as bactérias e os antibióticos.
“A temperatura, a humidade e fenómenos meteorológicos extremos alteram os habitats e conduzem à adaptação dos fungos”, explicou Norman van Rhijn, principal autor do estudo. Segundo ele, a resposta do Aspergillus às mudanças ambientais é semelhante à observada com o perigoso fungo Candida auris, também ligado ao aquecimento global, pode ler-se no ZAP.
Em 2023, investigadores identificaram em África um fungo cerebral mortal com comportamento alarmante. A descoberta fez eco entre os fãs de ficção científica por lembrar o enredo do jogo e série The Last of Us, em que um fungo transforma humanos em criaturas hostis. Embora ainda distante dessa ficção, os especialistas alertam: o risco fúngico é real e crescente.
Apesar de algumas zonas do globo — como partes de África — poderem tornar-se quentes demais para alguns fungos, a tendência global é clara: os fungos estão a expandir-se para novas regiões e a tornar-se mais difíceis de combater. O mundo pode não estar preparado para esta ameaça invisível, mas cada estudo é um passo na corrida contra o tempo.
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