Portugal

Fotos de imigrantes a combater fogos em Portugal foram criadas por IA? Não, é mentira

Notícias de Coimbra com Lusa | 2 horas atrás em 26-08-2025

As fotos de imigrantes a combater a incêndios em Portugal são reais e não foram criadas por Inteligência Artificial, como denunciado nas redes. Mas é verdade que um jornal do Bangladesh publicou versões melhoradas numa ferramenta de IA.

Nos últimos dias, as redes sociais portuguesas encheram-se de denúncias sobre a alegada encenação de algumas fotos de imigrantes a apagar fogos em Portugal, bem como da utilização de fotos falsas ou geradas por IA por parte de vários órgãos de comunicação social nacionais, incluindo a agência Lusa.

As primeiras críticas surgiram na tarde de domingo, dia 24, com várias publicações no X (antigo Twitter), algumas em tom xenófobo, a apontar o dedo ao Notícias ao Minuto, por ter publicado uma fotografia de um “muçulmano de fato limpinho” (exemplos: https://archive.is/bDxiP, https://archive.ph/5djXW).

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Ao final da tarde, as críticas visavam também uma publicação do Expresso com a mesma foto (https://archive.ph/e5AM1) e passaram a questionar a sua autenticidade, com vários utilizadores a considerarem tratar-se de uma foto gerada por IA (exemplo: https://archive.ph/BBxmy).

Estas críticas alargaram-se a outras fotos também em circulação, nomeadamente à de um grupo de sapadores florestais sentados numa mesa corrida, com alegados indícios de ter sido manipulada por IA: https://archive.ph/Cbv6n.

Na segunda-feira, já havia quem insinuasse que as duas fotos tinham sido geradas pela própria agência Lusa, para acompanhar um artigo sobre os imigrantes que combatem fogos em Portugal.

A Agência Lusa não criou, difundiu ou publicou as fotografias em causa. Os órgãos de comunicação que as publicaram em artigos próprios ou associadas a um texto da Lusa, como o Notícias ao Minuto e o Expresso , encontraram-nas nas redes ou na página de um jornal do Bangladesh.

O artigo da Lusa sobre a integração de migrantes no combate a incêndios no centro do país, que foi reproduzido em vários media, foi ilustrado por uma fotografia recente do fotojornalista Paulo Novais, de um incêndio na Pampilhosa da Serra.

Uma simples pesquisa reversa permite encontrar a origem das fotos polémicas num artigo publicado na quarta-feira, dia 20, no jornal Dhaka Post, sobre um grupo de cidadãos daquele país que estava a ajudar no combate aos fogos em Portugal, nomeadamente em Oliveira do Hospital.

Pesquisas adicionais identificaram também versões dessas três fotografias em publicações no X, Facebook e TikTok, embora uma análise mais atenta às versões publicadas no Dhaka Post indicie que houve de facto algum tipo de edição.

Para esclarecer essa dúvida, a Lusa Verifica falou com alguns dos sapadores florestais retratados e contactou o jornalista que escreveu o artigo, Farid Ahmed Patwary, um cidadão bengali que vive em Portugal e que colabora com esse jornal, e que admitiu que utilizou uma ferramenta da IA para melhorar a qualidade das imagens.

“Como a resolução das imagens não era boa, apenas aumentei a resolução usando o Picsart e só fiz o ‘crop’ (recorte). Não fiz qualquer edição adicional nas imagens que são reais e foram-me enviadas por dois sapadores florestais”, afirma Farid.

No entanto, a comparação das várias versões em circulação e com outras imagens originais ainda não publicadas, a que a Lusa Verifica teve acesso, permite constatar que a tentativa de melhoramento feita no Picsart resultou de facto na alteração de alguns pormenores em algumas imagens, mais notórios na foto em que o grupo está à mesa.

Na versão do Dhaka Post é evidente a desfiguração dos logotipos da marca de cerveja dos copos de plástico e da garrafa de refrigerante em segundo plano, entre outros pormenores.

Mas isso não significa que a foto não mostre pessoas reais, como demonstra a comparação com uma das versões não editadas dessa imagem, que também permite geolocalizar o local na praia fluvial de Alvoco das Várzeas.

É também isso que garante o presidente da Caule – Associação Florestal da Beira Serra, à qual pertencem aqueles sapadores florestais. “As fotos são verdadeiras, foram tiradas pelos nossos engenheiros e sapadores, e partilhadas num grupo interno de WhatsApp que temos na associação”, afirma Vasco Campos.

Este responsável diz lamentar a polémica em torno das fotos e assegura que não há nada de falso no trabalho que a Caule faz há 25 anos. “Sempre tivemos trabalhadores estrangeiros. Neste momento são 20 dos 30 que integram as nossas equipas. São pessoas do Bangladesh, Paquistão, Índia, Angola e Marrocos, todos integrados e alguns já com famílias a trabalhar e a viver também em Portugal.”

Quanto às dúvidas sobre o fardamento, assume que um dos sapadores surge com a farda de silvicultura e não com o equipamento de combate a incêndios, mas não considera o caso relevante. “Essa é uma falsa questão. O que havíamos de fazer, mandá-lo embora num momento em que estávamos em guerra, como estivemos durante dez dias?”, desabafa.

É falso que a Agência Lusa criou, difundiu ou publicou fotografias encenadas ou geradas por IA para ilustrar um artigo sobre o papel dos imigrantes no combate aos fogos no interior do país.

As imagens publicadas em vários órgãos de comunicação social foram copiadas das redes sociais dos próprios sapadores florestais e de um jornal do Banglasdesh que publicou versões dessas fotografias reais “melhoradas” por uma ferramenta de IA.

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