Saúde
Fim das doenças genéticas estará mais próximo? Veja como bebés já nasceram imunes

Imagem: Pexels
O Reino Unido alcançou um marco histórico na medicina reprodutiva ao registar o nascimento de oito bebés com ADN de três pessoas, graças a uma técnica inovadora que visa prevenir doenças genéticas graves.
A tecnologia, conhecida como transferência mitocondrial, combina o ADN nuclear dos pais com o ADN mitocondrial saudável de uma doadora. O resultado é um embrião com cerca de 99,9% do material genético dos pais e 0,1% da doadora, suficiente para evitar a transmissão de doenças mitocondriais hereditárias — condições raras e, muitas vezes, fatais que afetam órgãos como o coração, cérebro e músculos.
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Estas doenças resultam de mutações no ADN mitocondrial, que é transmitido exclusivamente pela mãe. Estima-se que 1 em cada 5.000 pessoas sofra de algum tipo de distúrbio mitocondrial, com consequências potencialmente graves a nível neurológico, muscular e metabólico.
Mesmo mulheres assintomáticas podem transmitir mutações mitocondriais aos filhos. A nova técnica oferece a estas mulheres a possibilidade de ter filhos saudáveis, rompendo com a cadeia de herança genética prejudicial.
Chamada de transferência pronuclear, a técnica consiste em fertilizar os óvulos da mãe e da doadora. Em seguida, os núcleos dos óvulos dos pais são transferidos para o óvulo da doadora, previamente fertilizado e com os núcleos removidos. Este processo permite preservar o ADN nuclear dos pais, mas com mitocôndrias saudáveis da doadora.
No Reino Unido, 22 mulheres foram tratadas com esta técnica até agora. Destas, resultaram oito bebés saudáveis: quatro meninas, quatro meninos, incluindo um par de gémeas idênticas. Uma gravidez ainda está em andamento.
Exames genéticos revelaram que seis dos oito bebés apresentaram uma redução de 95% a 100% nas mutações mitocondriais. Nos outros dois casos, a redução variou entre 77% e 88%, ainda dentro de níveis considerados seguros.
Todos os bebés têm-se desenvolvido normalmente. Alguns apresentaram pequenos problemas de saúde — como infeções urinárias e alterações no metabolismo lipídico — sem relação direta com a técnica utilizada.
O Reino Unido foi pioneiro na regulamentação da transferência mitocondrial, aprovando o seu uso em 2015. A prática é autorizada apenas em casos com risco genético comprovado e os embriões são cuidadosamente avaliados antes da implantação.
Apesar dos benefícios, o procedimento levanta questões éticas, especialmente quanto à possibilidade de aplicação futura para fins não terapêuticos, como a chamada “engenharia de bebés”. No entanto, os cientistas reforçam que a intervenção é limitada a prevenir doenças graves e incuráveis, sem alterações em características não relacionadas com a saúde.
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