Figueira da Foz diz que Ambiente deixou “cair” obra de proteção costeira

Uma obra de defesa costeira na praia do Cabedelo, Figueira da Foz, promovida pela Agência Portuguesa do Ambiente (APA) e que foi contestada por surfistas e por um movimento cívico, não vai ser realizada, disse a autarquia.
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“A APA deixou cair o projeto de intervenção que tinha para ali previsto”, disse à agência Lusa João Ataíde, presidente da Câmara Municipal da Figueira da Foz, aludindo à intervenção que incluía a reconstituição da chamada duna do Cabedelo – uma duna artificial, um paredão entre o início do molhe sul do rio e um campo de futebol, construído na década de 1960 para proteção de um antigo bairro de pescadores que ali existia e hoje coberto de areia, anexa ao areal – e a construção de um muro de suporte e enrocamento adjacente ao molhe sul do porto comercial.
Tanto a reconstituição da duna – com construção de uma nova à frente da atual – como o previsto muro de betão na praia junto à orla marítima foram alvo da contestação do movimento cívico SOS Cabedelo, que, em maio, chegou a anunciar uma queixa à Comissão Europeia em Bruxelas, considerando que a obra da Agência Portuguesa do Ambiente agravava o problema da erosão.
A autarquia da Figueira da Foz começou por defender a realização da obra, que foi lançada a concurso e adjudicada para ser realizada numa área maioritariamente portuária – fora da jurisdição da APA e sem conhecimento da administração do porto – obrigando, em março, a uma reunião entre todas as entidades envolvidas para resolver a questão.
Na altura, a obra chegou a estar prevista para se iniciar de imediato e estar concluída a 15 de junho, mas seria, primeiro, adiada para depois da época balnear e agora anulada.
João Ataíde diz que o município – que tem uma intervenção prevista para o local, que inclui a reabilitação do parque de estacionamento em terra batida ali existente e a construção de uma praça fronteira ao mar, para além de uma nova estrada de acesso, obra adjudicada na segunda-feira por 2,64 milhões de euros mais IVA – valorou os argumentos contra a intervenção.
“Eu sou sensível à argumentação, não vale a pena correr riscos, se queremos valorizar aquela zona para o surf seria desastrado estar a por aquilo em xeque”, declarou o autarca.
“Não há muro. Faremos o arranjo que for compatível com a modalidade [do surf], evitando que possa haver ali um desassoreamento provocado pela intervenção. O arquiteto [da obra camarária] verá, é fazer ali um arranjo apenas e só para proteger a praça, mas nada de muros de betão”, garantiu o presidente da Câmara.
Já quanto à duna de proteção, o autarca indicou que foram apresentados à APA os “prós e contras” da intervenção prevista e que aquela será reforçada, não na zona da praia, mas atrás da duna atual, onde agora passa a estrada de acesso ao Cabedelo que vai deixar de existir face à nova via prevista, a construir em zona portuária.
“Ficou assente que seria feita uma nova candidatura ao POSEUR [Programa Operacional Sustentabilidade e Eficiência no Uso de Recursos] para duplicar e reforçar a duna, mas por detrás [da duna artificial ali existente, que tem vindo a ser destruída pelo avanço do mar]. Há que criar ali um espaço de proteção entre o mar e o porto”, explicou João Ataíde.
Ouvido pela Lusa, Miguel Figueira, do SOS Cabedelo, afirmou que a cidadania, “com toda a mobilização social em torno deste tema, está de parabéns”.
“Estamos muito satisfeitos, mas continuamos vigilantes. Conseguimos travar as ações que iriam contribuir para o agravamento dos problemas a sul do Mondego, mas ainda não conseguimos garantir as medidas para a sustentabilidade do sistema de proteção costeira. Vencemos uma importante batalha contra a APA, mas não a guerra contra a erosão”, declarou.
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