Os alimentos ultraprocessados (AUPs), presentes em quase todos os supermercados, redes de fast food e bebidas industrializadas, podem ter efeitos prejudiciais à fertilidade masculina, alerta um novo estudo publicado na revista Cell Metabolism.
A investigação, conduzida por Jessica M. Preston e colegas, envolveu um ensaio clínico randomizado e cruzado com 43 homens, comparando os efeitos de uma dieta rica em AUPs com uma dieta de alimentos não processados, mantendo o mesmo número de calorias. O objetivo foi analisar como o processamento dos alimentos afeta o corpo, separadamente da ingestão calórica total.
Os resultados foram surpreendentes: mesmo com a mesma ingestão calórica, os participantes que seguiram a dieta ultraprocessada ganharam em média 1,4 kg a mais de massa gorda, apresentaram mais colesterol LDL (“mau”) e menos colesterol HDL (“bom”).
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Além disso, a dieta AUP afetou hormonas vitais, incluindo o GDF-15, regulador do metabolismo, e o FSH, essencial na produção de espermatozoides. Estes desequilíbrios hormonais estavam ligados a diminuição da qualidade e motilidade do esperma, fatores cruciais para a fertilização.
O estudo também identificou um acúmulo de poluentes nocivos, como ftalatos, nos participantes da dieta ultraprocessada. Estes químicos, presentes em embalagens de alimentos, podem interferir na função hormonal e contribuir para problemas reprodutivos. Curiosamente, foi registada uma redução nos níveis de lítio no sangue e no sémen, elemento natural ligado à regulação do humor, acompanhada de uma tendência para maiores escores de depressão.
“O número de funções corporais afetadas por alimentos ultraprocessados, mesmo em homens jovens e saudáveis, é alarmante”, afirmou o Professor Romain Barrès, autor sénior do estudo. “Os resultados destacam a necessidade de rever as diretrizes nutricionais para proteger melhor a saúde reprodutiva e metabólica.”
Apesar de a intervenção ter durado apenas três semanas e se basear na adesão autorrelatada, a consistência dos resultados em vários indicadores reforça a evidência de que os AUPs podem comprometer a fertilidade masculina e a saúde metabólica, mesmo quando consumidos com moderação.
Este estudo acrescenta-se à crescente preocupação com os efeitos a longo prazo de alimentos ultraprocessados, que diferem química e estruturalmente dos alimentos naturais e podem alterar o equilíbrio hormonal, o metabolismo e a capacidade reprodutiva.
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