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Família de portugueses em fuga das chamas na Grécia vive “efeito Titanic” em hotel

Notícias de Coimbra com Lusa | 10 meses atrás em 25-07-2023

Uma aparente normalidade no bar de um hotel em Kiotari, na Grécia, enquanto as chamas se aproximavam, levou o português Carlos Silva a associar a circunstância aos últimos momentos do Titanic, mas desta vez com um final mais feliz.

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“As chamas a um quilómetro e o bar cheio, com muitos à conversa e a usufruir de bebidas. Só faltava a orquestra a tocar”, disse o português, que vive na Alemanha.

Carlos Silva estava com a mulher e a filha de 03 anos a usufruir de uma quinzena de férias na estância balnear de Kiotari, na ilha grega de Rodes, quando foi apanhado pelo incêndio que há vários dias fustiga aquela zona.

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Os fogos tinham começado na terça-feira passada, mas a vida corria com normalidade em Kiotari, que conta com dezenas de hotéis e é muito procurada por turistas de todo o mundo.

Na sexta-feira, a imagem de uma coluna de fogo e alguma cinza indicavam que as chamas estavam mais próximas, ajudadas pelos fortes e quentes ventos, mas os hotéis asseguravam que permaneciam longe.

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No sábado, tudo mudou. O fumo tapou o sol, a cinza não parava de cair e muitos foram os que se apressaram a fazer as malas. O hotel afirmava que a proteção civil não aconselhava a evacuação e apelava à calma, convidando os turistas a usufruir do bar no átrio.

A proteção civil começou então a bater às portas dos hotéis a dizer que tinham de sair urgentemente, o que levou quase 20.000 pessoas a iniciar uma fuga, a maioria a pé e cerca de 3.000 de barco.

“Houve quem comprasse, na hora, um barco e fugisse”, observou.

Carlos Silva e a família optaram por sair a pé, pois a espera na praia avizinhava-se difícil por causa do fumo e, soube depois o português, as coisas não correram muito bem para quem escolheu sair pelo mar.

Na rua era muito o fumo e o barulho, nomeadamente de helicópteros envolvidos no combate às chamas. Milhares de pessoas estavam nas ruas a caminhar, algumas com crianças ao colo e poucos pertences, pois a maioria das malas ficara nos hotéis.

Carlos e a família chegaram a outro hotel, entretanto transformado numa espécie de centro de acolhimento. Mas as chamas seguiram-nos e tiveram de sair.

“Já tínhamos estado com o fogo a um quilómetro, não quis arriscar e fomos em direção a uma parte da ilha mais afastada do fogo e menos habitada”, contou.

No caminho encontraram elementos do exército grego, que estavam a ajudar nas evacuações, mas também aí as coisas não foram fáceis, pois a carrinha onde seguiam avariou, sendo substituída por outra que avariou igualmente.

“Tivemos de fazer percurso a pé, sem luz, com uma criança ao colo”.

A família chegou finalmente a outro hotel, na parte oeste da ilha, o segundo refúgio desde o início da fuga. Aí ficaram até às 09:00 de domingo, num espaço planeado para mil pessoas, mas onde se encontravam 5.000, deitadas em toalhas de mesa, ao relento, sem comida e água suficientes, sem eletricidade e sem informações.

Carlos Silva quis continuar e, ao fim de horas ao telefone, conseguiu um táxi que os transportou, juntamente com um grupo de italianos que não sabiam falar inglês e por isso estavam isolados de todos, para o aeroporto, onde já estavam milhares de pessoas.

Sem garantia de voos, a família optou por apanhar um barco – muito frequentes na região e com a estrutura de um cruzeiro – que os levou até à ilha de Kos, onde o fogo já não é uma ameaça e se encontram desde domingo à noite.

Com a viagem de regresso a Berlim marcada para quarta-feira, a família tenta ultrapassar o susto de vários dias de fuga e que transformaram um sonho em pesadelo.

A paixão pela Grécia, que é antiga, vai continuar e Carlos Silva garante que vai regressar, até porque “só não gosta da Grécia quem não conhece a Grécia”. Mas não a Rodes, porque as más memórias são muitas.

O Ministério dos Negócios Estrangeiros de Portugal disse indicou segunda-feira que tem estado “em contacto com 19 portugueses” na Grécia, na sequência dos incêndios que estão a afetar este país.

O primeiro-ministro grego, Kyriakos Mitsotakis, declarou na segunda-feira que a Grécia estava “em guerra” contra os incêndios florestais que assolam o país, que tinha então “mais três dias difíceis” pela frente devido às altas temperaturas.

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