Educação

Falta de vagas nas escolas deixa dezenas de crianças e jovens sem aulas

Notícias de Coimbra com Lusa | 21 minutos atrás em 16-09-2025

Dezenas de alunos da zona de Lisboa continuam sem ir às aulas por falta de vagas nas escolas, havendo crianças e adolescentes que hoje passaram a manhã à porta dos serviços do ministério em vez de estarem nas aulas.

Daniela está há um ano à espera de uma vaga que lhe permita retomar os estudos, Maurícia teria de acordar às quatro da manhã para chegar à escola a tempo e André devia estar nas aulas com os colegas do 7.º ano, mas continua sem vaga. Estes são alguns dos casos que hoje chegaram ao conhecimento das técnicas que atendem nos serviços da Direção-Geral dos Estabelecimentos Escolares (DGEstE), de Lisboa.

Por volta da hora do almoço, já tinham sido distribuídas mais de uma centena de senhas pelas famílias que se iam acomodando nas três salas de espera da DGEstE. À Lusa, todos referiram falhas na colocação que impedem os alunos de estudar.

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Na semana em que todos os alunos já deveriam estar nas aulas, ainda há processos por resolver, como o de Daniela, André, Heitor, Jairson ou Beatriz, que passaram o dia nos serviços do ministério na esperança de encontrar uma vaga para regressar à escola.

Daniela Tavares chegou a Portugal há exatamente um ano. Vinda de Cabo Verde, tentou inscrever-se no passado ano letivo numa turma do 10.º ano, mas passou “o ano inteiro sem vaga”, apesar de ter ido várias vezes à DGEstE, contou à Lusa a jovem de 17 anos.

“Agora estou aqui outra vez, porque as aulas já começaram e continuo sem vaga”, acrescentou a rapariga, sentada numa das salas de espera, ao lado de mais de duas dezenas de pessoas a aguardar pela sua vez.

Também Otília Lima voltou hoje à DGEstE, onde tinha estado na semana passada a expor o seu caso: A família mudou-se para o Pragal, em Almada, mas os filhos, de 10 e 12 anos, permaneceram inscritos em escolas de Santo António dos Cavaleiros, em Loures, apesar do pedido de transferência.

“Tinha de os levantar da cama às quatro da manhã para conseguirem estar nas aulas a horas”, desabafou a mãe, garantindo que pediu a transferência dentro do prazo legal, explicou “com documentos” o motivo da mudança, mas a “situação foi ignorada”, criando uma situação incomportável para toda a família.

Leila Miguel está a viver uma história semelhante. No ano passado, mudaram-se para Almada, pediram transferência da filha para mais perto de casa, mas a menina permaneceu na escola de Benfica. Houve dias em que o pai atravessou a ponte para a deixar em Lisboa, mas houve muitas outras vezes em que faltou às aulas.

“Fomos chamados pela comissão de proteção de menores que nos disse que iríamos ter problemas se continuasse a faltar”, recordou Leila Miguel. A menina chumbou de ano, os pais voltaram a pedir transferência para uma escola em Almada, mas a aluna continua inscrita em Benfica.

“Não conseguimos trazê-la todos os dias para a escola, nós temos de trabalhar”, desabafou a mãe.

Também a mãe de Heitor, de seis anos, vive um drama semelhante. Elisabete Santos esperou toda a manhã para ser atendida e saiu da DGesTE em lágrimas. O filho tem uma deficiência profunda mas ficou colocado numa turma do 1.º ano em Oeiras que não está preparada para o receber.

O menino “usa fraldas, não consegue comunicar e precisa de apoio especial, tal como referido no processo enviado da creche onde andava”, garante a mãe, defendendo que o Heitor deveria estar “numa escola especial, mas não há vagas”.

Elisabete faz limpezas, mas têm sido raros os serviços que consegue aceitar, porque não tem onde deixar o filho: “Eu não consigo ir trabalhar, mas as pessoas não querem saber se vamos ter dinheiro para comer. Aqui ainda me dizem que se ele não for à escola arranjo problemas com a CPCJ”, desabafou.

André Almeida tem 12 anos e passou a manhã na DGEstE, porque continua sem vaga enquanto os colegas estudam no Agrupamento Padre Alberto Neto, em Queluz.

André soube por um amigo que já tinham terminado as inscrições para o 7.º ano. “Ninguém na escola avisou que era preciso fazer matrícula, porque nos anos anteriores era automático”, contou à Lusa o rapaz, explicando que pagou uma multa por ter apresentado em julho os papéis que deveriam ter sido entregues no mês anterior.

Também Anair Ferreira continua à procura de vaga para a filha Daniele. A mãe inscreveu a menina de nove anos no 4.º ano do Agrupamento de Escolas Ferreira de Castro, em Mem Martins, mas “ainda não tem colocação”.

“É o jogo do empurra. Vou à escola e dizem-me para vir aqui, chego aqui e fico na mesma. Já disse que pode ficar numa escola mais longe de casa, mas parece que não há vagas em lado nenhum”, disse.

Sentados do lado de fora da DGEstE, os irmãos Jairson, de 16 anos, e Beatriz, de sete, também continuam sem turma nem escola. Vieram de Cabo Verde e estão a viver no Monte da Caparica à espera de lugar numa turma do 10.º ano em Ciências e Tecnologia e outra no 2.º ano.

Também Tanush, de cinco anos, não tem vagas no pré-escolar, contou o pai que tentou inscrever o menino em Arroios.

Durante a manhã, a Lusa encontrou apenas uma família com o caso resolvido: Marcelina contou que o neto ficou colocado no 2.º ano de uma escola em Monte Abraão e a sobrinha Nair ficou colocada no 4.º ano numa escola do Cacém. “Agora vamos às escolas para tratar do material escolar”.

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