Cinema
Exposição em Coimbra destaca o trabalho das mulheres no cinema português
Imagem: depositphotos.com
Retratos e testemunhos de mais de 50 mulheres ligadas ao cinema nacional estão em destaque na exposição “Nem musa, nem sombra”, apresentada em Coimbra a partir de sábado, no âmbito do 31.º Caminhos do Cinema Português.
No Estúdio 1, no edifício Avenida, alinham-se imagens e frases de “mulheres que fazem o cinema existir” e que “continuam a abrir caminhos e a disputar espaços num setor historicamente marcado pela desigualdade de género”, avançou a organização do festival, em comunicado enviado à agência Lusa.
Convidada pelo Caminhos para a curadoria da exposição, a produtora Tathiani Sacilotto reconheceu que foi surpreendida por uma realidade que, afinal, ela própria experimenta num meio ainda muito marcado por assimetrias.
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“Ingenuamente, depois de mais de 20 anos em Portugal, tinha esquecido o meu próprio percurso no cinema – as roupas trocadas antes de uma reunião para parecer mais profissional, o esforço para disfarçar o sotaque, os olhares entre homens em camaradagem ignorando a mulher produtora à mesa, ser apresentada como a mulher de… ou ser interrompida repetidas vezes”, recordou.
À partida, queria construir uma exposição que comparasse o papel da mulher quando começou a trabalhar em Portugal e hoje, “um momento em que há muito mais diversidade”.
“Inicialmente fiquei super animada para fazer a exposição”.
Mas, depois, começou a pedir fotografias às mulheres que contactou: “E era quase unânime as mulheres não terem fotos delas trabalhando”, explicou à agência Lusa.
Além de muitas terem recusado participar – por “acharem o trabalho delas no cinema quase insignificante” -, “foi interessante – e doloroso – perceber que as que aceitavam não tinham fotos, ou as fotos que mandavam eram tiradas meio à socapa, meio de costas, quase simbolizando que aquele trabalho não é assim tão significante”.
As conversas que teve com as mais de 50 mulheres ligadas às várias profissões do cinema revelaram-se como “meio uma terapia”.
“Comecei a ver como elas ainda são invisibilizadas, estão sempre associadas a um realizador homem ou ficam na sombra. Daí o título, ‘Nem musa, nem sombra’”, acrescentou.
A produtora e curadora acreditava que a desigualdade de género “não existia na área do cinema”.
A exposição trouxe-lhe a realidade: “Essa questão da invisibilidade, do outro, do patriarcado, do não reconhecimento, ainda está muito ativa na sociedade e também no cinema. É transversal a todas as áreas da sociedade”.
Apesar disso, algo está a mudar no espetro de funções da cadeia cinematográfica.
“Foi muito importante a criação da MUTIM [Mulheres Trabalhadoras das Imagens em Movimento]”, uma associação de mulheres que trabalham no cinema e audiovisual em Portugal, fundada em 2022.
Desde o aparecimento da MUTIM, “mais mulheres começaram a trabalhar no cinema, porque houve uma certa ‘irmandade’ que começou a funcionar”, destacou Tathiani.
E, “em vez de chamar um técnico homem [para trabalhar num filme], começou-se a chamar uma técnica mulher para o mercado de trabalho”.
“Continua a ser um meio que é basicamente mais masculino, mas agora começa a ter muito mais mulheres a trabalhar dentro do cinema, mais do que a produtora ou a maquilhadora. Agora há cada vez mais em outras áreas: há maquinistas, diretoras de fotografia e assim por diante”.
Procurando dar visibilidade às mulheres que constroem o cinema e audiovisual em Portugal, à frente e atrás das câmaras, “Nem musa, nem sombra” é inaugurada no sábado, às 15:00, e fica patente no Estúdio 1 durante o festival, sendo visitável mediante marcação.
De sábado a dia 22, o Caminhos do Cinema Português decorre em Coimbra, Benfica (Lisboa), Penacova e Mealhada, com 63 sessões e mais de 110 filmes, celebrando o que de mais urgente se faz no cinema português e nas suas ligações ao mundo.
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